PS e PCP dizem que crescimento «anémico» e assente no consumo privado é insustentável
O PS sublinhou hoje que Bruxelas continua a discordar do Governo quanto ao cumprimento do défice orçamental e que o crescimento do consumo privado a um ritmo superior ao do PIB é «insustentável» para a economia. Uma opinião partilhada pelo PCP que considera que se trata de «um crescimento económico anémico, insuficiente para as necessidades de desenvolvimento».
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João Galamba, em declarações à margem da reunião do grupo parlamentar socialista, assinalou que «a causa principal» da revisão em alta do PIB de toda a zona euro e de Portugal «é a descida do preço do petróleo e a desvalorização do euro, que têm um impacto positivo na economia europeia e portuguesa».
O deputado do PS referiu que Bruxelas «continua a dizer que Portugal não cumprirá os objetivos de ficar abaixo dos 3%» de défice orçamental e manifestou preocupação relativamente aos «valores anémicos do investimento económico».
«A Comissão revê um pouco em alta os valores do investimento, mas o investimento líquido continua a ser negativo, ou seja, os valores de investimento previsto não permitem a depreciação do 'stock' de capital, até cerca de 2018 vamos ter um investimento líquido negativo na economia portuguesa», observou.
João Galamba disse ainda que o aumento do rendimento disponível e consequentemente do consumo privado assenta no essencial «na devolução de rendimentos de pensionistas e funcionários públicos» e também na queda do preço do petróleo.
«Quando o consumo privado cresce mais do que o PIB isso é insustentável, obviamente que é positivo que a economia cresça mas a composição desse crescimento é da maior importância e regressar a um crescimento anémico, assente no consumo interno, sem investimento, não augura nada de bom para o futuro da economia portuguesa», reforçou.
«Para uma verdadeira transformação estrutural da economia que garanta que há redução do desemprego, crescimento económico e um não agravamento do défice externo, precisamos que o investimento aumente, porque sem investimento não há uma verdadeira transformação do tecido produtivo e esse é o objetivo de Portugal, Portugal se quer ter crescimento sustentável no futuro tem de mudar o seu perfil produtivo», insistiu.
À semelhança do PS, também Paulo Sá, do PCP, diz que o crescimento das economias europeias, e não apenas da portuguesa, se deve à descida dos preços das matérias primas nos mercados internacionais. O deputado comunista defende, no entanto, que o crescimento apontado pela Comissão Europeia para Portugal é um «crescimento económico anémico, insuficiente para as necessidades de desenvolvimento do país e que resulta da opção do Governo por uma política de austeridade».
O PCP sublinha ainda que os números apontados para o défice e a dívida dão razão à proposta comunista de renegociar a dívida pública e de convocar uma conferência intergovernamental para discutir das dívidas públicas dos países da zona euro.
Pelo Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua também aponta os fatores externos como a descida do preço do petróleo e a desvalorização do euro como razões para o crescimento das economias europeias.
A deputada bloquista considera que o importante é que os governos não aproveitem estes números para mascarar os verdadeiros desequilíbrios das economias. Mariana Mortágua considera ainda que a decisão de ontem do BCE de não aceitar títulos de dívida grega como garantia nos empréstimos a bancos é antidemocrática e que pressão de forma inaceitável o novo governo grego.