Respostas aparentemente contraditórias de Armando Vara na comissão de inquérito à Caixa levam social-democratas a pedir envio das declarações do antigo administrador do banco para o Ministério Público
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"Não pode andar a brincar com isto". Foi com palavras intempestivas que o deputado do PSD Hugo Soares anunciou que vai pedir o envio para o Ministério Público das declarações de Armando Vara na Comissão Parlamentar de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos.
A polémica centrou-se nas respostas à questão "alguma vez falou com José Sócrates sobre a Caixa enquanto foi administrador?" A pergunta foi feita primeiro pelo CDS, através do deputado João Almeida, a quem Armando Vara respondeu de forma taxativa: "não", respondeu por mais do que uma vez.
A pergunta foi repetida pelo PSD. O deputado do PSD Hugo Soares, recordando que mentir numa comissão parlamentar de inquérito constitui crime, insistiu na questão. E perante essa insistência, a resposta de Vara não foi a mesma: "não me lembro de alguma vez ter falado com ele sobre a Caixa", respondeu.
A aparente contradição não passou despercebida: João Almeida reparou nela, e na sequência disso, o social-democrata Hugo Soares, sublinhando a contradição nas respostas, exclamou que Armando Vara "não pode andar a brincar com isto", e pediu ao presidente da Comissão que "seja extraída uma certidão para participação ao Ministério Público".
"Nunca lhe chamei chefe"
Questionado sobre uma escuta divulgada pela imprensa na qual Vara, falando em 2009 (nesse momento estava no BCP, já depois de ter saído da Caixa) com o antigo secretário de Estado do Desporto Laurentino Dias, se refere a Sócrates como "o chefe", o antigo administrador do banco criticou aquilo que descreveu como "um resumo mal feito" da conversa, e afirmou que "não se revia nesse resumo", até porque "nunca me referi a essa pessoa dessa forma".
Essa conversa com Laurentino Dias tinha como tema o financiamento do Autódromo do Algarve. Um financiamento que Vara rejeitou na Caixa, e que encontrou, "já aprovado", no BCP. O projeto, sustenta Vara, era "insustentável", mas isso não o impediu de sugerir que a Caixa o financiasse: "o mal já estava feito, e se o Estado considerava que o projeto tinha interesse público, então que metesse dinheiro público, do Orçamento do Estado", afirmou aos deputados.
Caixa "não vai perder" com Vale do Lobo
Armando Vara adivinha que a CGD não vai ficar a perder com o negócio do Vale do Lobo, no Algarve. O empreendimento turístico é tido como um dos "negócios ruinosos" da Caixa, que para além de conceder crédito ao empreendimento, ainda entrou no capital do projeto.
O negócio, ao qual a CGD está exposta em 283 milhões de euros, acabou por originar também quase 140 milhões em imparidades. Vara está no entanto convencido que o banco público ainda vai recuperar, no mínimo, o investimento feito: "estou certo que a CGD não vai perder dinheiro", garantiu, descrevendo o projeto como "um ativo que, assim como desvalorizou, agora está a valorizar a cada dia que passa".
O antigo administrador sublinha também que, com a informação disponível na altura, fazia todo o sentido a Caixa entrar no negócio, manifestando mesmo a satisfação da administração do banco por ter conseguido entrar no projeto. "Foi uma decisão tomada com a unanimidade de " todos os órgãos da Caixa Geral de Depósitos", garantiu.