Estudo revela que portugueses apoiados pelas instituições de solidariedade continuam a ter as mesmas dificuldades. Cada pessoa destas famílias vive com 6 euros por dia.
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A recuperação da economia portuguesa ainda não chegou aos mais pobres. A conclusão é do Banco Alimentar Contra a Fome com base num estudo feito pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica.
O documento revela que quem recebe apoios das instituições de solidariedade social continua com as mesmas dificuldades do passado.
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Os resultados do inquérito, a que a TSF teve acesso, revelam mesmo que face a 2014 (data do último trabalho do género) aumentou de 18% para 26% o número de pessoas que afirma ter estado, nos últimos 6 meses, "uma vez ou outra sem comer" durante um dia inteiro.
Outro dado: 47% das famílias apoiadas pelas IPSS têm um ou mais desempregados e dois terços destas pessoas estão sem trabalho há mais de dois anos, numa tendência, como sublinha Isabel Jonet, de manutenção da situação de pobreza.
Os níveis de rendimentos, naturalmente baixos, também não se alteraram em relação aos inquéritos de 2012 e 2014 e mais de metade das pessoas carenciadas tem apenas o 1.º ciclo do ensino básico ou menos.
Apenas 29% das famílias tem rendimentos vindos do trabalho de um ou mais membros, sendo que a maioria vive de prestações sociais, nomeadamente pensões e outros subsídios.
Há ainda uma percentagem elevada, 44%, de famílias com pessoas doentes ou com deficiência o que impede muitos de trabalharem.
Em média, as pessoas que recebem apoios das IPSS vivem, por pessoa, com 187 euros por mês, algo que dá cerca de 6 euros por dia, valor que desce para menos de 5 euros se olharmos apenas para as famílias que têm crianças.
Apesar dos números anteriores que não mostram uma evolução positiva do rendimento efetivo das pessoas apoiadas pelas instituições sociais, o estudo sublinha, contudo, que as pessoas sentem-se menos pobres, algo que segundo os autores do estudo parece um paradoxo.
A presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome explica que os números deste estudo mostram que, na prática, a recuperação da economia ainda não chegou ao bolso dos mais pobres, apesar de existir algum novo otimismo no ar, mesmo entre os mais carenciados.
Isabel Jonet fala ainda num "grave problema" da sociedade portuguesa: "a transmissão da pobreza entre gerações, visível nos baixos resultados escolares dos filhos o que em princípio significa que depois também terão menos rendimentos quando forem adultos".
Não por acaso, afirma a representante do Banco Alimentar, 44% dos inquiridos não têm esperança em ter uma vida melhor dentro de alguns anos.