"Regressão civilizacional": associações portuguesas de automóveis alertam para impactos negativos das tarifas de Trump
A Associação do Comércio Automóvel de Portugal refere que as taxas impostas por Trump prejudicam a economia mundial e os consumidores. Já a Associação de Fabricantes da Indústria Automóvel admite que algumas empresas vão ter de mudar-se para os EUA
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As associações portuguesas ligadas ao setor automóvel alertam para o impacto negativo das tarifas de 25% sobre carros fabricados fora dos Estados Unidos, instituídas por Donald Trump. Em declarações à TSF, Hélder Pedro, da Associação do Comércio Automóvel de Portugal, fala num "retrocesso civilizacional" que prejudica a economia mundial e os consumidores. Também a Associação de Fabricantes da Indústria Automóvel mostra apreensão com a decisão do Presidente norte-americano.
"É mais uma medida que vai contra a liberdade do comércio internacional, a globalização da economia, que com a retirada de barreiras alfandegárias nos últimos anos contribuiu para o aumento do PIB mundial, contra o multilateralismo comercial. Agora, a Europa terá também de aplicar medidas a produtos dos Estados Unidos, já estava anunciado. Isso não é bom para os consumidores, primeiro para os consumidores americanos e depois para os consumidores europeus. É uma regressão em termos civilizacionais", explica à TSF Hélder Pedro, da Associação do Comércio Automóvel de Portugal, referindo que ainda acredita num recuo de Donald Trump.
"Nós esperávamos que tivesse havido alguma negociação, porque a União Europeia tinha-se disponibilizado também para reduzir a taxa que existia sobre veículos americanos de dez para 2,5 por cento, mas pelos vistos não foi suficiente e agora irá levar a uma retaliação e depois a uma negociação. A nossa posição é que acabará por haver aqui um consenso e um recuar na taxa quando essa negociação acontecer. Acredito que, a prazo, a situação será revertida ou minimizada", sublinha.
Também ouvido pela TSF, José Couto, presidente da Associação de Fabricantes da Indústria Automóvel, recorda que já se vinha a registar uma diminuição da procura de componentes, mas agora fica ainda mais apreensivo.
"Estamos preocupados, a indústria automóvel dos Estados Unidos representa para Portugal o quinto país de destino. Vamos ter uma provável diminuição da procura de componentes europeias, que nós exportamos para o México, Canadá e EUA. Teremos de encontrar soluções. Essa é a nossa preocupação, está em causa o número de postos de trabalho que também afetará a diminuição da procura", explica à TSF José Couto, admitindo que algumas empresas vão ter de mudar-se para os EUA, num setor que está em transformação.
"Sabíamos que isto iria acontecer, esta declarações da Administração dos Estados Unidos só vem reforçar os nossos medos. É evidente que há construtores que terão de investir ou que terão de deslocalizar fábricas para os Estados Unidos para fugir a estes 25%. Teremos um reposicionamento da produção", adianta.
No mesmo plano, a Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis (ACEA) advertiu que estas tarifas terão um impacto negativo global no setor, incluindo para os fabricantes americanos. "Pedimos ao presidente [Donald] Trump que considere o impacto negativo das tarifas, não apenas sobre os fabricantes globais, mas também sobre a indústria nacional dos EUA", disse a diretora-geral da ACEA, Sigrid de Vries.
As tarifas não afetarão apenas as importações para os EUA, uma penalização que deverá ser suportada pelos consumidores americanos, mas as medidas sobre peças para automóveis também prejudicarão os fabricantes que produzem carros nos EUA para mercados de exportação, observou.
Os fabricantes de automóveis alemães também criticaram esta quinta-feira o aumento das taxas alfandegárias sobre automóveis, decidido na quarta-feira pelo presidente dos EUA, Donald Trump, considerando-as "um sinal fatal para o livre comércio".
Os 25% de taxas alfandegárias adicionais "representam um fardo considerável para as empresas e cadeias de fornecimento globais" na indústria automóvel, "com consequências negativas, especialmente para os consumidores, inclusive na América do Norte", considerou a Associação Alemã de Fabricantes de Automóveis (VDA), em comunicado.
"As consequências serão sentidas no crescimento e na prosperidade de todos os lados", acrescentou a VDA, pedindo aos Estados Unidos e à União Europeia (UE) que entrem rapidamente em negociações para encontrar uma "abordagem mais equilibrada".
"O risco de um conflito comercial global" é "alto em todos os lados", alertou.
Também a indústria automóvel britânica pediu que Londres e Washington consigam um acordo para evitar tarifas, após o anúncio de Donald Trump, que consideraram "dececionante".
"Em vez de impor tarifas adicionais, deveríamos explorar formas de criar oportunidades para os fabricantes do Reino Unido e dos EUA", disse Mike Hawes, presidente executivo da associação do setor (SMMT), num comunicado emitido na noite de quarta-feira.
O Reino Unido está atualmente em negociações com os Estados Unidos para concluir um acordo económico que lhe permita evitar as tarifas alfandegárias americanas, que têm vindo a ser impostas a muitos países há semanas.
O setor automóvel britânico, que viu a sua produção prejudicada no ano passado pela transição para veículos elétricos, já tinha manifestado preocupação em janeiro com as ameaças de taxas alfandegárias adicionais nos Estados Unidos.
Na quarta-feira, Donald Trump anunciou que as novas tarifas serão aplicadas a "todos os carros não fabricados nos Estados Unidos" a partir de 2 de abril.
A taxa aplicada até agora era de 2,5%. Isso significa que os carros importados agora serão taxados em 27,5% do seu valor.