Bagão Félix considera, no espaço "A Opinião", na TSF, que a atribuição de um subsídio universal é moralmente arriscada: promove o ócio e desvaloriza o mérito do trabalho.
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Bagão Félix considera que o rendimento básico universal que, a Finlândia tencionava implementar (tendo, desde janeiro de 2017, avançado já com a atribuição de um subsídio mensal de 560 euros aos desempregados com idades entre os 25 e os 58 anos) não passa de "uma utopia interessante do ponto de vista académico".
A Finlândia anunciou, na última semana, que vai abandonar o projeto-piloto no final deste ano. A medida, que previa que todos os cidadãos recebessem um subsídio, independentemente da sua condição social e laboral, foi implementada pelo governo de centro-direita.
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No espaço de comentário semanal que ocupa na TSF, "A Opinião", Bagão Félix explicou que o objetivo do governo finlandês era "erradicar a burocracia dos sistemas de segurança social", financiando o rendimento básico universal através da quantia que, de outra forma, gastaria com o aparelho administrativo.
A ideia na base da medida, segundo o comentador, era "desmoronar o Estado social como o conhecemos" e concretizar a "liberdade de recusa de trabalho". Uma ideia que a esquerda apoiou porque considerou que iria "totalizar a proteção social e reduzir sustentadamente a pobreza", afirma Bagão Félix.
O economista constata que não se trata de uma ideia nova (remonta ao século XVIII) e que já foi equacionada em sítios como o Alasca e a Suíça.
Mas, na opinião de Bagão Félix, esta é uma medida injusta. "Entregar dinheiro sem qualquer condições provoca risco moral, desincentiva a procura de trabalho, beneficia o ócio, desvaloriza o mérito e cria uma "nova classe" que vive dos esforços dos outros", defendeu o antigo ministro das Finanças.
Além disso, o economista aponta consequências como a dificuldade em preencher lugares nos empregos que, apesar de menos atrativos, são necessários e, dada a existência de menos trabalho, a diminuição da receita fiscal - colocando-se até o problema do financiamento do próprio rendimento básico.
Para Bagão Félix, é preferível haver "salários familiares" ou "retribuições por trabalho socialmente relevantes de natureza não comercial" (como, por exemplo, os cuidados a idosos). Desta forma, considera o economista, estar-se-ia a estimular funções que não contam para o Produto Interno Bruto (PIB) mas que são de grande relevância.