A taxa de risco de pobreza, em 2023, subiu para 17%, revela o relatório “Portugal Balanço Social”.
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De acordo com o trabalho desenvolvido por um grupo de economistas da faculdade Nova SBE, a taxa de risco de pobreza de 17% em 2023 compara com os 16,4% em 2022.
Ou seja, “o número de pessoas em risco de pobreza aumentou 60 mil”, adianta o grupo de investigadores.
Susana Peralta, Bruno Carvalho e Miguel Fonseca sublinham que “aumentou a percentagem da população pobre sem capacidade para aquecer a casa, para assegurar uma despesa inesperada, para pagar uma semana de férias, para comer proteínas em dias alternados, para substituir móveis usados, para comprar roupa, para encontros sociais uma vez por mês, ou para adquirir computador”.
O relatório concluiu ainda que são os mais pobres que menos confiança têm nas instituições do Estado, o que, para Susana Peralta, em declarações à TSF, “vai implicar que há aqui um terreno fértil para discursos que, no fundo, podem capitalizar aquela desconfiança para levar a soluções que podemos chamar populistas ou outras”.
“A inflação quando nasce não é para todos”
De acordo com este trabalho, houve um impacto substancial da inflação na capacidade dos pobres terem acesso a bens essenciais. “As pessoas pobres têm mais dificuldades a chegar ao fim do mês”, sublinha Susana Peralta.
Para a investigadora, “a inflação quando nasce, não é igual para todos. Quem mais sofre com a inflação são as pessoas mais pobres porque têm muito menos capacidade de ajustar o seu orçamento ao aumento do custo de alguns bens e serviços”.
“Verifica-se um aumento na insatisfação económica e nas dificuldades para chegar ao fim do mês da população pobre e da população não pobre, bem como um aumento da prevalência de sobre-endividamento entre os não pobres”, analisa o relatório.
Os investigadores revelam que “a insatisfação económica é especialmente frequente na população pobre, afetando quase dois terços dos indivíduos”.
Mas a inflação não muda a prioridade das famílias para pagarem o empréstimo da habitação. “Não aumentou a percentagem de pessoas com atraso no pagamento da hipoteca ou de contas mensais como água ou eletricidade, o que poderá resultar das medidas de mitigação implementadas pelo governo”, aponta o relatório.
Este trabalho mostra ainda a desigualdade na distribuição de riqueza. “Os 25% mais ricos detinham cerca de 47% da riqueza do país, a comparar com os 25% mais pobres, que detinham apenas 10,8%.”
Algarve é a região onde população em risco de pobreza supera média nacional
No Plano de Desenvolvimento Social para a região, apresentado em dezembro do ano passado pela ex-ministra Ana Mendes Godinho, o diagnóstico apontava para cerca de 25% dos residentes a viverem em risco de pobreza. O coordenador do Movimento de Apoio à Problemática da Sida (MAPS), uma instituição sediada em Faro que apoia população vulnerável, salienta que o aumento dos pedidos de ajuda aumentou muito nos últimos tempos. "Nas nossas respostas de alojamento temos situações de casais que estão no ativo, que têm o seu emprego e, mesmo trabalhando os dois, não conseguem fazer face à despesa de uma habitação", conta Fábio Simão. Os preços "insuportáveis" e a pouca oferta de casas estão na origem destas situações que desaguam em situações de pobreza. "Têm-nos chegado relatos de famílias a dormir em carros, com crianças", sublinha. Fábio Simão adianta que não consegue quantificar, mas que as chamadas para a linha de emergência "só no primeiro trimestre deste ano já superaram quase [todas as ] do ano passado".
Fábio Simão sublinha que a falta de habitação é o grande problema. "No nosso CAES (Centro de Alojamento de Emergência Social) (...) para pessoas que ficam desprotegidas desde que abriu, há cerca de dois anos, nunca tivemos uma cama vazia." Para este centro há lista de espera.
O aumento do custo de vida para quem tem filhos é ainda mais penalizador.
"A luz está mais cara, a água está mais cara, a alimentação está mais cara", salienta. "Mesmo que as pessoas arranjem uma habitação de 400 ou 500 euros, o que sobra não chega para fazer face às necessidades básicas e os apoios existentes também são limitados", nota Fábio Simão.
Notícia atualizada às 12h27