Risco político global bate recorde histórico e insolvências crescem 11% na Europa
O alerta para um agravamento significativo dos riscos económicos e políticos a nível global é dado pela COFACE no seu mais recente relatório, apontando para uma subida de 11% nas insolvências empresariais na Europa, em 2025, e para o risco político mundial que atingiu o valor mais elevado de sempre
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A economia mundial resistiu às turbulências comerciais do primeiro semestre do ano, mas os próximos trimestres deverão evidenciar os efeitos de longo prazo, de acordo com o Coface Risk Review, relativo a outubro de 2025. O relatório foi realizado pela COFACE, uma multinacional francesa, especializada em seguros de crédito e serviços complementares, como recuperação de dívidas, que analisa as dinâmicas globais, com especial destaque para o agravamento dos riscos sociais e políticos e para os desafios estratégicos enfrentados também pelos países do Golfo.
Perante o contexto atual, a equipa de analistas de riscos económicos desta companhia procedeu a cinco alterações nas avaliações de risco por país, incluindo quatro revisões em alta, e a dezasseis alterações nas avaliações setoriais, nove das quais positivas.
Se as previsões de crescimento global foram revistas em alta para 2,6% em 2025, seguindo-se 2,4%, em 2026, em simultâneo, as insolvências empresariais nas economias avançadas aumentaram 4% no primeiro semestre, com particular incidência para o crescimento de 11% na Europa e mais 12% na região Ásia-Pacífico. O Índice de Risco Político e Social alcançou um máximo histórico de 41,1%, superando o pico registado durante a pandemia, consolidando a instabilidade política como um fator estrutural da economia mundial.
Em comunicado, a empresa sublinha que, “depois de um verão marcado por novos acordos comerciais e pela subida gradual das tarifas norte-americanas, a economia global revelou resiliência".
"A tarifa média dos Estados Unidos fixou-se em torno dos 18%, após um pico de 36% logo após o Liberation Day, muito acima dos 2,5% registados durante a administração Biden, mas as empresas conseguiram antecipar, reorientar e absorver o impacto das medidas, beneficiando também do impulso dado pelos investimentos em inteligência artificial", nota.
Contudo, “começam a surgir sinais de pressão na atividade, no emprego e na inflação nos EUA, que antecipam a transmissão dos efeitos nocivos das tarifas à economia real.
As perspetivas regionais mostram contrastes significativos. Os Estados Unidos mantêm-se mais resistentes do que o esperado, apoiados pela procura interna, enquanto a China continua a desacelerar e a zona euro apresenta crescimento anémico, apesar da ligeira recuperação prevista na Alemanha. A Índia destaca-se com um crescimento robusto de 7,6% no primeiro semestre, a Polónia mantém um ritmo sólido de 3,4% e África melhora as suas projeções para 4,1% em 2025.
Mesmo assim, a COFACE dá conta que o risco de escaladas geopolíticas e os efeitos da consolidação orçamental em vários países mantêm elevada a incerteza sobre o desempenho global e assume que, a nível político e social, a instabilidade tornou-se o novo normal. Além da subida recorde do índice global, persistem grandes conflitos e intensificam-se as tensões internas em países como Burkina Faso, Níger, Paquistão e Líbano, mas é nos Estados Unidos que o risco aumentou de forma mais acentuada, refletindo a fragilidade institucional e a ascensão do populismo.
Na Europa, destaca a situação em França por enfrentar uma crise política sem precedentes e realça também que no Médio Oriente, em particular, os países do Golfo, surgem como uma das regiões mais dinâmicas do mundo, colocando o setor não petrolífero a representar já 70% do PIB da região.
Estima ainda que o crescimento do Conselho de Cooperação do Golfo deverá atingir 3,8%, em 2025, e 4%, em 2026, impulsionado pela procura interna e por programas públicos ambiciosos, como a Visão 2030 da Arábia Saudita. Adianta que os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita atraíram fluxos recorde de investimento direto estrangeiro em 2024, respetivamente 46 e 32 mil milhões de dólares, reforçando a sua integração nas cadeias de valor globais, mas alerta que a dependência contínua dos hidrocarbonetos e uma eventual queda prolongada nos preços do petróleo poderão comprometer orçamentos públicos e atrasar projetos estratégicos.
No editorial deste relatório baseado no trabalho da sua equipa de investigação económica, Jean-Crhistophe Caffet, economista chefe da COFACE, intitula-o de “acalmia durante a tempestade”, onde dá conta que, no atual contexto, teve de ser feita uma revisão marginal da sua previsão de crescimento para 2025 e 2026. Para este ano, ligeiramente em alta, mais 2,6%, e ligeiramente em baixa em 2026, na ordem de mais 2,4%, confirmado que fizeram cinco alterações nas avaliações dos países, incluindo quatro atualizações, e 16 alterações nas avaliações por sector.