Rita Nabeiro desafia Governo a criar incentivo fiscal para produção e comercialização de produtos sustentáveis
Em entrevista à TSF, a empresária questiona que futuro para o país quer o Governo e a nova composição do parlamento em matéria de sustentabilidade
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A questão da sustentabilidade nem sequer foi tema de campanha, lamenta a empresária, Rita Nabeiro, administradora do grupo Nabeiro, dono da Delta Cafés e diretora-executiva da Adega Mayor, que sucede a Pires de Lima, à frente do BCSD - Conselho Empresarial, dedicado ao desenvolvimento sustentável, até 2028.
O contexto atual é mais desafiante, com a pressão das políticas norte-americanas da Administração Trump, já traduzidas em avisos a alguns líderes empresariais, mas também a nível interno, numa fase em que o país está no início de uma nova legislatura e é preciso agir em matéria de sustentabilidade em várias frentes, defende Rita Nabeiro, em entrevista à TSF.
A empresária reconhece não ser tarefa fácil pôr em prática um plano de ação definido pela nova direção do BCSD para os próximos três anos. Mesmo assim, quer dar continuidade ao que já estava a ser desenvolvido pela anterior direção, da qual já fazia parte, a convite do ex-presidente, António Pires de Lima (CEO da Brisa).
Dedicada em exclusivo ao mundo empresarial aos 44 anos, depois de ter começado a carreira na Delta Cafés (o negócio iniciado pelo avô, Rui Nabeiro, ainda hoje um ícone do país), cedo criou a empresa de vinhos e enoturismo Adega Mayor, sem nunca deixar de abraçar causas como a sustentabilidade, o propósito, as pessoas, a cultura e o desenvolvimento, mesmo dentro do próprio grupo Nabeiro, sendo ainda presidente da Associação Coração Delta e já lá vão dois anos.
Agora aos comandos do BCSD, tem como objetivo alargar a base de associados para as 220 empresas e propor-lhes o que chama de "Pacto DEI (Pacto Diversidade, Equidade e Inclusão que decorre do primeiro estudo feito sobre DEI“, ou seja, um compromisso com a sustentabilidade em linha com os objetivos sustentáveis das Nações Unidas e com o Pacto Ecológico Europeu, que até 2030 quer reduzir 55% das emissões até à neutralidade carbónica a alcançar em 2050.
Um caminho sem retorno, considera Rita Nabeiro, lamentando que o tema da sustentabilidade não tenha entrado na última campanha eleitoral e desafiando os novos líderes políticos a darem o exemplo em nome de um mundo que urge ser mais descarbonizado.
Ao novo Governo, deixa mesmo o desafio de criar um incentivo fiscal para produção e comercialização de produtos mais sustentáveis, tal como já faz com a compra de veículos elétricos, porque atualmente custam mais a produzir e chegam a preços mais caros ao mercado, afastando uma população com baixo poder de compra.
Rita Nabeiro questiona ainda os novos representantes dos diferentes partidos no Parlamento sobre qual a visão do país que querem ter no futuro e desafia-os a trabalhar em conjunto nesse desígnio.
Enquanto empresária portuguesa, recebeu o Prémio Mulher Empreendedora da ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários, também foi convidada pela Presidência da República para integrar o “Grupo de Reflexão sobre o Futuro de Portugal”, entre 2018 e 2022 e hoje defende que tem de haver um compromisso para haver um mundo sem quotas, que ainda são o instrumento necessário para haver maior equidade, seja de género, ou de cultura.
No início do novo mandato à frente do BCSD promete que na sua atuação vai primar pelos pilares básicos desta associação, em domínios como a capacitação, conhecimento, transformação, influencia estratégica e comunicação.
Reconhece que não tem uma tarefa fácil pela frente devido ao clima de incerteza, considerando que, atualmente, além do greenwashing, há uma nova preocupação: o fenómeno de green hushing, ou o receio de comunicar ações por medo de críticas e escrutínio,e baseia essa convicção em casos que se estão a passar nos EUA dos quais teve conhecimento há pouco tempo.
