Sérgio Monteiro: "estou eticamente impedido" de trabalhar no dono do Novo Banco
Responsável pela venda do Novo Banco garante que a consciência o impede de trabalhar para o comprador, o Lone Star, e assegura que a venda, com 25% do capital a ficar no Estado, beneficia o país.
Corpo do artigo
Sérgio Monteiro garante que não irá trabalhar para o Novo Banco ou para a Lone Star, que comprou a instituição.
Questionado pelo PCP na Comissão Parlamentar de Orçamento Finanças e Modernização Administrativa (COFMA) se isso iria acontecer, o responsável pela venda esclareceu que não está "de facto legalmente, mas considero-me eticamente impedido de trabalhar de trabalhar ou ter qualquer relação profissional com o comprador", considerando que "essa questão fica já tratada".
Num momento em que a operação de venda do Novo Banco ainda não está concluída, já que o acordo com o fundo norte-americano ainda tem de ser detalhado e concretizado, há fatores que podem deitar toda a operação abaixo. É o caso da troca de obrigações, admitiu o responsável pela venda: "se a troca não se realizar, o mais natural é que a transação não se conclua", afirmou, ressalvando que "a profunda convicção que temos, em conjunto com a Lone Star e com o Novo Banco, é que os termos a apresentar aos obrigacionistas serão de tal forma que a adesão à operação será de molde a que a transação se conclua".
O responsável pela venda e agora consultor do Banco de Portugal deu a entender claramente que existe um plano B para o caso de a venda à Lone Star não chegar a bom termo, mas não o quis revelar, argumentando que "manda a prudência que os 'planos B' existam mas não se divulguem'".
TSF\audio\2017\05\noticias\23\hugo_neutel_21h
25% do capital podem "valer muito mais"
Sérgio Monteiro rejeitou as críticas segundo as quais o Estado, por ficar com 25% do Novo Banco, deveria ter algum poder de gerir a instituição.
O responsável pelo processo de venda da instituição que sobrou do colapso do BES recordou aos deputados que "ouvimos as mesmas pessoas que consideravam que Lone Star era um fundo abutre que vinha valorizar o banco para depois o vender, dizer agora que o fundo de resolução fica exposto em 25%".
Para Sérgio Monteiro, a crítica não faz sentido: "os 25% de capital não tem nada a ver com o mecanismo contigente", sublinhou aos deputados, assegurando que "é realmente um valor que fica preservado na esfera pública que poderá ser valorizado no futuro". O agora quadro do Banco de Portugal faz contas de cabeça para mostrar o valor que a fatia pode trazer às contas públicas: "no arranque, numa regra de três simples, se a Lone Star paga mil milhões de euros por 75% do capital, isso significa que os 25% restantes valerão 333 milhões de euros", revela, para concluir: "esperemos que possam valer bastante mais".
O antigo secretário de Estado dos Transportes revelou ainda que uma das propostas de compra - a da China Misheng - previa um envelope financeiro maior, mas não ofereceu garantias.