
Boaventura Sousa Santos
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Em entrevista à TSF, Boaventura Sousa Santos sugeriu que Portugal possa procurar ajuda em Angola ou no Brasil como opção à UE, que «começou por ser um sonho e está a ser um pesadelo».
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Boaventura Sousa Santos defende que o próximo Governo português deve procurar auxílio financeiro alternativo ao da União Europeia e FMI.
Para este sociólogo, «é preciso abrir uma auditoria pública da dívida que já se fez noutros países, como «na Alemanha, em 1953, que recebeu essa auditoria».
«É uma suspensão do pagamento da dívida e o dinheiro pode ser imediatamente accionado para o desenvolvimento económico», adiantou Boaventura Sousa Santos, em entrevista à TSF.
Esta opção implicaria que «Portugal fique fechado aos mercados europeus durante um pequeno período», sendo que, segundo este sociólogo, seria então necessária «liquidez» que poderia vir da «União Europeia, com eurobonds, se ela estivesse a funcionar».
Outra solução poderia passar por «investimentos e empréstimos de países que possam estar em condições de, a curto prazo, oferecerem algum apoio a Portugal».
Esses países poderia ser «Angola, que é já um grande investidor e com interesses comerciais muito grandes em Portugal» ou o Brasil.
«Para isso, precisamos de ter líderes políticos, gente capaz de pensar fora da caixa e das receitas e portanto tentar ver se a União Europeia começou por ser um sonho e está a ser um pesadelo somos muito velhos neste continente», recordou.
Boaventura Sousa Santos entende ainda que os partidos de Esquerda se devem alinhar na oposição na sequência dos resultados das legislativas de domingo, numa altura em que «acabou a ficção e vai começar a realidade».
O sociólogo coloca as conversações para a formação de um novo Governo num período de transição entre estes dois períodos e não tem dúvidas em afirmou que «nunca houve eleições tão irreais como estas».
«O país vai mudar profundamente nomeadamente com as privatizações e cortes nas pensões, com as alterações nos sistemas de saúde e educação. É um país que daqui a dois anos estará diferente se este memorando for cumprido», garantiu.
Apesar disto, Boaventura Sousa Santos entende que os prazos fixados neste memorando «não são exequíveis politicamente em condições democráticas», apenas em em caso de ditadura.
«Mas, é de prever que haja perturbação social e por isso é que penso que deve haver alternativas políticas», afirmou o sociólogo que sugeriu que os partidos de Esquerda deveriam substituir os seus líderes, se esse for o caso.
O sociólogo considera que o «protesto» já não pode ser alternativa e que a «alternativa de Esquerda vai ser necessária», sempre num «contexto europeu», pois a actual «solução política aguente mais de dois anos», dado que a «crise vai aprofundar».