Taxas de juro nos Estados Unidos podem descer ainda no fim do ano. Lagarde insiste que BCE ainda não pode cantar vitória
Jerome Powell afirmou que uma eventual descida das taxas de juro "vai depender dos dados que vierem e o que aparecer em termos da inflação". Já Lagarde, no Fórum do BCE, reiterou a ideia de que, apesar da inflação de junho ter tocado nos 2%, o ainda não pode cantar vitória
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As taxas de juro nos Estados Unidos podem descer no final do ano, assumiu esta terça-feira o presidente da Reserva Federal (Fed) dos Estados Unidos no Fórum Banco Central Europeu (BCE), em Sintra. No mesmo debate, a presidente da instituição, Christine Lagarde, reiterou a ideia de que, apesar da inflação de junho ter tocado nos 2%, o BCE ainda não pode cantar vitória.
Jerome Powell afirmou que uma eventual descida das taxas de juro "vai depender dos dados que vierem e o que aparecer em termos da inflação". A Fed estará também atenta ao mercado laboral, onde a expectativa é que se verifique um "arrefecimento gradual".
Ainda assim, Powell salientou que "a economia dos EUA está numa boa posição, a inflação caiu para perto de 2%, o desemprego está em 4,2%, [a economia dos EUA está] saudável no geral".
"Se ignorar tarifas, a inflação está a comportar-se como esperado", apontou o presidente da Fed, acrescentando que ainda não se veem os efeitos das tarifas e o banco central sempre disse que o 'timing' destes seria incerto.
São esperados alguns impactos das tarifas no verão, disse, salientando que a Fed estava "em pausa quando se viu a dimensão das tarifas e todas as previsões para a inflação subiram".
Após as tarifas, a Fed não reagiu ao mexer nas taxas, já que está a "aguardar enquanto a economia está numa forma sólida" e uma eventual decisão irá "depender dos dados".
Powell admitiu também que provavelmente a Fed já teria cortado as taxas de juro se não fosse pelas tarifas.
A Fed tem sido criticada pelo Presidente dos EUA por ainda não ter mexido nos juros, com Donald Trump a proferir vários insultos a Jerome Powell, mas o responsável não quis comentar essas declarações, dizendo apenas que está focado em fazer o seu trabalho.
"O que importa é usar as ferramentas para atingir os nossos objetivos", reiterou, sendo recebido por aplausos da plateia e tendo também o apoio dos governadores presentes no painel, com a presidente do BCE, Christine Lagarde, a dizer que faria "exatamente o mesmo que Powell faz" perante Trump.
Já no discurso de abertura do Fórum, esta segunda-feira, Lagarde tinha pedido à plateia aplausos para Jerome Powell, que disse ser a "epítome de um banqueiro central corajoso que merece o aplauso".
Lagarde preocupada com risco de "privatização do dinheiro"
A presidente do BCE alertou ainda esta terça-feira para a confusão entre dinheiro, meios de pagamento e infraestruturas de pagamento, dizendo estar preocupada com o risco da "privatização do dinheiro".
"Vejo o dinheiro como um bem público, e nós [banqueiros centrais] enquanto funcionários públicos e o meu medo é que a distorção das linhas possa levar à privatização do dinheiro e isso não é o objetivo do trabalho que temos feito", defendeu a responsável.
Lagarde alertou assim que há riscos de "enfraquecer a soberania das regiões que inadvertidamente ficam sujeitos a uso de meios de pagamento" sem regras, salientando que se devia determinar qual é a política sobre o assunto.
Já o governador do Banco da Coreia salientou que existe preocupação com as 'stable coins' denominadas em dólares que não estão reguladas e que poderão minar o quadro regulatório em vigor.
Chang Yong Rhee apontou ainda que há quem diga que a nova tecnologia em blockchain pode identificar transações irregulares mas "não há certezas sobre se isto é verdade" e ainda existe receio sobre estas novas moedas digitais.
