O investigador Carlos Farinha Rodrigues lamenta que o país seja o 4.º mais desigual na União Europeia
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Os dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e analisados num estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) revelam que a pobreza e a desigualdade voltaram a diminuir após a subida em 2022.
Existem 1,8 milhões de pessoas no país em pobreza monetária e quase um quinto da população vive em pobreza ou exclusão social. No entanto, Portugal permanece um país profundamente desigual.
Em declarações à TSF, Carlos Farinha Rodrigues, especialista que atualizou para a Fundação o estudo “Portugal Desigual”, uma investigação sobre pobreza e desigualdades que tem realizado desde 2016, sublinha que essa situação deve-se, sobretudo, aos baixos salários pagos na sociedade portuguesa e à ”profunda desigualdade nas contribuições sociais”.
“Só para ter um exemplo, se considerarmos todas as transferências sociais pagas pelo Estado, incluindo as pensões, 42% vão para os 20% mais ricos, enquanto os 20% mais pobres só recebem 10% dessas transferências”, concretiza. “Se queremos combater a pobreza, temos de combater as desigualdades, mas temos feito muito pouco para as reduzir”, considera.
A descida da taxa de pobreza tem também de ser avaliada de acordo com o ano de 2022. “Foi um ano terrível em relação à pobreza e desigualdade e a melhoria em 2023 não chega para compensar o agravamento que tinha existido no ano anterior”, sublinha. Há, no entanto, “esperança de que haja o retomar da tendência decrescente que se tem verificado desde 2015- 2016”.
Um dos factos mais salientes nos resultados do inquérito é a descida da incidência da pobreza das crianças e jovens, que caiu para 17,8%, o valor mais baixo desde 2003. Em sentido contrário, verificou-se um forte agravamento da taxa de pobreza dos idosos, que subiu quatro pontos percentuais, passando de 17,1%, em 2022, para 21,1%, em 2023.
O investigador do ISEG afirma que estes números podem ser avaliados pelo facto do INE ter alterado os seus parâmetros, avaliando os rendimentos através do IRS, mas, na sua opinião, será mais do que isso. Carlos Farinha Rodrigues sublinha que alguns pensionistas que não eram considerados pobres, são-no agora porque os parâmetros para avaliar o limiar da pobreza encontram-se acima dos seus rendimentos.