Tendência de estagnação faz temer incumprimento de metas de reciclagem em Portugal
Líder da Sociedade Ponto Verde identifica problemas na reciclagem do vidro e aponta que em 2025 é obrigatório que o país esteja a reciclar 65% das embalagens.
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O valor até está em linha com as metas definidas para 2023, mas as 460 mil toneladas de embalagens recicladas em Portugal no ano passado levam a Sociedade Ponto Verde a alertar que o país está a seguir uma tendência de estagnação.
A presidente executiva da sociedade, Ana Trigo Morais, reconheceu à TSF temer que, dados estes valores, Portugal entre em incumprimento já no próximo ano, a nível europeu, até porque o país devia “estar já a enviar para valorização em reciclagem de mais toneladas de embalagens”.
As metas a cumprir são “mais ambiciosas” e, por isso mesmo, a representante alerta que é preciso rever vários aspetos, “sobretudo operacionais”, da gestão da reciclagem das embalagens "para podermos chegar a 2025 e conseguirmos cumprir cerca de 65%, que é a meta obrigatória, sendo que, neste momento, nos estamos a encaminhar para reciclagem de 60% das embalagens”.
Neste momento, o “material campeão da reciclagem é o papel cartão”, com uma “taxa superior a 80% de recolha e envio para reciclagem”. Segue-se o plástico, que “está bastante bem também” com quase 44,5% do plástico “recolhido e encaminhado” para reciclagem. Mas há um “problema grave” no vidro.
"Historicamente não conseguimos cumprir a meta de reciclagem, o que é até difícil de compreender em Portugal, uma vez que temos muito consumo de vidro per capita. Isso distingue-nos do resto dos países da Europa”, aponta Ana Trigo Morais, acrescentando que há também em Portugal "indústrias vidreiras que precisam desse material para o reciclar e reincorporar em novas garrafas”.
Neste aspeto, é preciso "redesenhar todo o sistema” e resolver problemas como a localização dos ecopontos, melhorando o serviço.
É necessária “mais recolha porta a porta” e maior clareza e transparência "naquilo que são as atividades de recolha”, mas também uma especial preocupação em melhorar a recolha “junto dos cafés e da restauração” do chamado "consumo fora de casa”.
O objetivo é que "as infraestruturas estejam mais adaptadas às necessidades e consigamos evitar que as embalagens vão parar ao aterro, que é um grande tema que nós temos e uma grande preocupação", alerta, já que Portugal “está a chegar ao limite da capacidade dos seus aterros”.
"Temos de acelerar muito a reciclagem das embalagens através da rede dos ecopontos e de serviços complementares de recolha dessas embalagens, tanto em casa como fora de casa”, remata Ana Trigo Morais, que pede também mais ambição e orientação nas políticas públicas para alterar a tendência portuguesa de forma que a meta de reciclagem em 2025 seja cumprida.