Teodora Cardoso: "O risco de resgate nunca está afastado. Estamos vulneráveis"
Presidente do Conselho de Finanças Públicas avisa o Governo que o financiamento do Estado não está assegurado. E acumula desconfianças sobre a estratégia do Governo. Défice de 2,7% não convence a UE.
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A presidente do Conselho de Finanças Públicas diz que o primeiro trimestre mostrou que, "pelo menos no curto prazo", a estratégia de aposta no consumo interno não foi eficaz - contrariando assim a conclusão de António Costa, dita no último debate quinzenal. Na entrevista TSF, Teodora Cardoso diz que os números do crescimento "não foram bons", mesmo que aceitando que só com mais tempo teremos indicadores para aferir os resultados no terreno.
Avisando que só em setembro teremos dados concretos sobre se vai ser possível atingir o défice proposto pelo Governo (2,2% do PIB para este ano), a economista garante que, nessa altura, já será tarde para corrigir um eventual desvio - até porque, diz, há muitas despesas previstas para o segundo semestre que o vão tornar mais difícil e o Executivo do PS ainda não explicou as medidas com que pretende travar a subida do défice. "Há mais medidas não especificadas do que era habitual" - incluindo as 35 horas. "E o Governo só dizer que vai controlar a despesa é insuficiente."
Mais até: se o défice acabar nos 2,7% do PIB (resultado que António Costa disse que seria "o melhor da democracia") não irá convencer Bruxelas, nem respeitar as regras europeias. E de nada serve esperar uma flexibilidade, "isso nada resolve", acrescenta.
O maior problema para o país, "em particular para nós e pelas vulnerabilidades que temos", diz Teodora Cardoso, não está em obedecer à Comissão Europeia, mas em garantir "o financiamento do Estado, que está sempre em risco" - mais ainda perante as circunstâncias em que o país está, quer na economia (pela falta de confiança e investimento), quer pelos problemas conhecidos no sistema financeiro.
De todo o modo, acrescenta, "a Europa está muito mais atenta ao nosso OE, mesmo sem sanções. E vai ser intrusiva."
Será ainda possível Portugal ter um novo resgate? "Espero que não. Espero bem que haja consciência de que esse é um caminho muito doloroso", diz Teodora Cardoso. Ouça a entrevista ou veja os vídeos para saber porquê.