Administrador do grupo Vila Galé admite que crescimento do turismo abrande, mas sem estagnar. Alojamento local vai "estabilizar". E não entende "o racional da taxa turística" de dois euros no Porto.
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No ano em que celebra o trigésimo aniversário, o grupo Vila Galé vai atingir as 30 unidades hoteleiras. A segunda maior cadeia hoteleira portuguesa, que emprega 2500 pessoas, vai investir mais de 80 milhões de euros até 2019, abrindo, em Portugal e no Brasil, 3 hotéis neste ano e outros dois no próximo.
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Gonçalo Rebelo de Almeida entende que o bom momento que o país atravessa no turismo, que todos os anos bate recordes, não é passageiro: "se isto estivesse a ser um fenómeno de moda e depois as pessoas não saiam de cá muito satisfeitas e não falavam bem, acredito que poderia ter tendência a estagnar ou cair", afirma, acrescentando que "mas o que os estudo mostram é que as pessoas saem de cá muito satisfeitas e surpreendidas com o que encontram, a todos os níveis: infraestruturas, gastronomia, simpatia, ou monumentos. Isto potencia o boca-a-boca, e que as pessoas voltem e queiram conhecer novas zonas, e isto garante um pouco a sustentabilidade".
O administrador do Vila Galé ressalva que "ninguém consegue prever o futuro" e admite que o cenário pode ter uma alteração, mas acredita que a acontecer, ela será ligeira: "não acredito que vamos continuar a crescer ao ritmo dos últimos dois anos. Agora entrámos numa fase de crescimento mais lento, mas acho que ele é sustentável, porque a qualidade das coisas está cá. O produto está cá, não é fictício", revela.
Gonçalo Rebelo de Almeida admite que nos últimos dois anos houve uma feliz coincidência dos astros que ajudou o turismo, motivada por fatores como a vinda de Madonna para Lisboa, para além da instabilidade no norte de África, que tradicionalmente compete com o sul da Europa no mercado turístico: "ganhar o campeonato europeu, o festival da canção, ter empresas distinguidas, ou a organização do WebSummit são um conjunto de fatores que beneficiou a marca Portugal", acredita. E acrescenta com outra coincidência: " agora temos mais notoriedade nos Estados Unidos, onde Portugal era relativamente desconhecido. A seguir a haver mais rotas para os Estados Unidos, a Madonna decide vir".
Crescimento do alojamento local vai estabilizar...
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O administrador da segunda maior cadeia nacional de hotéis acredita que o alojamento local não roubou clientes aos hotéis e lembra que o aluguer de casas para férias existe há décadas. Gonçalo Rebelo de Almeida sublinha que a regulamentação desta atividade retirou muita gente da ilegalidade, por isso é favorável à atividade de plataformas como o AirBnB: "sou perfeitamente favorável ao alojamento local e a formas alternativas de alojamento e acho que elas contribuíram para o crescimento do turismo, até porque a taxa de ocupação dos hotéis, nomeadamente na zona de Lisboa entre Abril e Outubro é bastante elevada, e se não fosse alguma oferta de alojamento local nem seria possível ter recebido tantos turistas", afirma. Para Rebelo de Almeida, a regulamentação do sector trouxe ainda outra vantagem: "veio identificar e trazer para dentro do sistema um conjunto de oferta que passava completamente ao lado do sistema e nem sequer estava identificada. O aluguer de casas para fins turísticos não é um fenómeno novo", recorda, lembrando que "o Algarve estava inundado de casas para alugar há anos, com os triângulos brancos nas janelas [papéis triangulares colados nas janelas são tradicionalmente uma indicação de disponibilidade de aluguer]. A forma de captação é que ficou mais sofisticada, mais moderna, mais sexy, mais sofisticada, com plataformas como o AirBnb".
...porque o mercado está "absurdo"
Gonçalo Rebelo de Almeida acredita que o crescimento do sector do alojamento local vai abrandar: "vai haver uma estabilização, porque o valor do imobiliário em Lisboa está perfeitamente absurdo. Já não traz rentabilidade nenhuma", diz. O administrador do Vila Galé revela mesmo que o grupo já ponderou a entrada neste mercado: "já analisámos quer para modelos de hotel, quer para modelos de alojamento local". Mas conclui que "a rentabilidade de quem faça o investimento agora vai ser insignificante e até com algum risco, dependente do tipo de financiamento ou de capital que tenha".
Taxa turística no Porto: "Não percebo o racional"
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Na semana em que entrou em vigor a taxa turística no Porto - de dois euros por noite - o gestor do grupo Vila Galé questiona a lógica da diferença em relação a Lisboa, que cobra um euro. "Se Lisboa tem funcionado com um euro, não percebo o racional por detrás do Porto ter avançado com dois", afirma.
E acrescenta que não faz muito sentido cobrar uma taxa aos visitantes que convidamos: "o conceito de cobrar qualquer coisa - uma taxa - a um visitante, a alguém que convidámos a vir visitar o país é uma coisa que me chama a atenção.