Um filão por explorar. Novos concursos para minas de lítio ainda não estão na agenda do Governo
Para aumentar a produção Portugal precisa de lançar concursos para novas minas de lítio. Concursos que têm sido sucessivamente adiados.
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Já passou quase um ano e nada foi feito. Já passaram 12 meses e o Governo não tem nada para dizer. Foi a 31 de janeiro de 2018 que o Conselho de Ministro fez publicar uma resolução em que afirmava que o "potencial geológico nacional, embora elevado, apresenta uma insuficiente caracterização das ocorrências em termos mineralógicos e de cálculo de recursos, mesmo ao nível inferior de 'recursos inferidos', que importa clarificar".
O Governo adiou para este ano o lançamento dos concursos para as zonas mineiras, mas, contactado pela TSF, o gabinete do secretário de Estado João Galamba adianta que "ainda não tem nada para anunciar".
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Em setembro de 2018, o antecessor de João Galamba, Jorge Seguro Sanches, disse que o objetivo do Governo era transformar Portugal no "fornecedor líder do metal para baterias de automóveis elétricos".
Mas o Governo quer mais do que apenas a extração do lítio da terra portuguesa. A ideia é realizar "estudos relacionados com as fases de beneficiação (laboratorial e industrial) que possam suportar uma estratégia assente na sua instalação, no sentido de promover o aumento do valor acrescentado nacional". Ou seja, levar o lítio do mineral ao metal.
Outra ideia da resolução do ano passado do Governo passa por identificar "projetos de investigação ou iniciativas de inovação relacionadas com a reciclagem dos minerais de lítio das baterias usadas que, numa lógica de economia circular, reduza os resíduos e a 'pressão' sobre os minerais de lítio de origem primária".
Esta resolução surgiu na sequência das conclusões do grupo de trabalho para o lítio, que elaborou um relatório em março de 2017.
De acordo com os dados recolhidos por estes investigadores, existem cerca de uma dezena de locais com maiores probabilidades de rentabilidade de extração do lítio em Portugal. A maioria dos locais estão a norte do rio Tejo.
Estes são os 11 "campos identificados pela Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) correspondentes às zonas de potencial interesse das empresas exploradoras.
Há dois anos, segundo o grupo de trabalho governamental, entraram na DGEG 30 pedidos de direitos de prospeção e pesquisa de lítio em Portugal. Estes pedidos têm associados mais de 5 mil milhões de euros de propostas de investimento que correspondem a uma área total de 2.500 quilómetros quadrados.
O filão de Portugal
Apesar de Portugal ser na atualidade o quinto maior produtor mundial de lítio, o filão português corresponde apenas a 1% do consumo global. Os grandes produtores estão na América do Sul onde é mais fácil e barato extrair o lítio.
No Chile, na Argentina e na Bolívia, onde estão 75% das reservas de lítio, o cloreto é extraído dos lagos salgados através da evaporação (como se fosse uma salina) e depois é transformado em carbonato por eletrólise.
Em Portugal, o lítio está em jazidas que precisam ser trituradas e depois o cloreto é extraído através de métodos metalúrgicos.
Como explica o presidente da Associação Portuguesa de Geólogos (APG), José Romão, "o lítio não está (nas rochas) como um elemento único. Ele está associado a um silicato ou a um óxido" que precisa de ser "separado" do lítio.
A mina de lítio de Boticas quer fazer o processo extrativo a céu aberto, o que, para José Romão, não acarreta problemas apesar do presidente da APG compreender que "temos um histórico negativo em Portugal relativamente às explorações mineiras. Contudo, hoje, as minas nos países mais avançados do mundo não têm nada a ver com o passado. As coisas estão de tal maneira controladas com uma tecnologia muito avançada que a maior parte dos problemas ambientais deixam de existir", conclui.
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