
Carlos Cesar (E),António Costa (C), Ana Catarina Mendes (D)
Miguel A. Lopes/Lusa
O ex-ministro Vera Jardim defende diálogo com a coligação PSD/CDS-PP e "capacidade nenhuma de diálogo" com PCP e Bloco, ao contrário de João Soares, que aponta para uma "maioria absoluta de esquerda". António Galamba, um dos mais críticos na noite eleitoral, considera que ao falhar os objetivos a que se propôs, António Costa não tem mandato para negociar à esquerda ou à direita.
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"Não há mandato para nada disso. O mandato de António Costa era para ter uma maioria absoluta. Não conseguiu e tem de procurar dentro do partido mandato para fazer o que quer que seja dentro dessas matérias e também nas presidenciais", defendeu António Galamba à entrada para a reunião da Comissão Política, depois de questionado pelos jornalistas sobre que negociações deve o secretário-geral do partido encetar, tendo em vista uma solução de governo que inclua o Partido Socialista.
Para o antigo secretário nacional da direção liderada por António José Seguro, António Costa não conseguiu "nenhum dos dois" objetivos definidos aquando da chegada à liderança do partido, devendo por isso "colocar o lugar à disposição".
Para além da maioria absoluta, o dirigente do PS considera que Costa também não conseguiu "unir o partido" e que essas são razões que retiram ao atual líder o poder de decisão sobre futuros entendimentos, devendo, neste momento, procurar nova legitimação no universo socialista.
Por outro lado, Vera Jardim, antigo ministro, que recusou que este seja o "momento de pôr em causa a liderança do partido, porque seria um mau serviço ao PS e sobretudo ao país", entende que, depois da derrota de domingo, o diálogo deve ser feito com PSD e CDS-PP: "Vejo o diálogo com a coligação PSD/CDS-PP. Com a esquerda não vejo capacidade nenhuma de diálogo".
"Espero que o PSD e o CDS, por estes dias, tenham feito uma aprendizagem no sentido do compromisso necessário", acrescentou, depois de afirmar que também os socialistas devem tirar "consequências" dos resultados eleitorais.
Já o antigo autarca João Soares, rejeitou qualquer diálogo com a coligação liderada por Pedro Passos Coelho e Paulo Portas: "O PS deve comprometer-se seriamente na obtenção de uma maioria absoluta de esquerda que permita ao país ter um governo estável durante quatro anos, dispondo de uma maioria parlamentar absoluta".
O dirigente do PS sublinhou ainda que os socialistas devem manifestar-se contra a ideia de "arco da governação" e de governos que incluam apenas PS, PSD e CDS-PP.
À entrada para a reunião da Comissão Política, falou também Álvaro Beleza, um dos nomes do PS que já se mostrou disponível para avançar contra António Costa.
Questionado pelos jornalistas, o antigo membro da direção de António José Seguro não quis, de forma taxativa, dizer se é ou não candidato à liderança do PS, mas deixou clara a forma como quer ver decidida a questão da liderança.
"Sempre defendi que a escolha do candidato a primeiro-ministro, e o secretário-geral do PS é sempre um candidato a primeiro-ministro, deve ser por eleições primárias e o partido não pode andar para trás e fechar-se aos portugueses. Temos de projetar o PS para o futuro e não para o passado", disse.
Álvaro Beleza afirmou ainda que o PS deve agendar um Congresso Nacional para depois das eleições presidenciais: "Tem de haver um Congresso. É bom que isso seja para depois das eleições presidenciais".