Amadora-Sintra dá formação a médicos e doentes sobre insuficiência cardíaca
Descobrir que se sofre de insuficiência cardíaca pode mudar uma vida, mas não significa deixar de vivê-la. A iniciativa "Coração de Portugal" dá a conhecer histórias de esperança contadas por doentes e de quem procura, com projetos e iniciativas, melhorar a vida de quem luta contra a doença. É o caso da formação dada a médicos e doentes no serviço de Cardiologia do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca.
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Para ajudar os médicos de Medicina Geral e Familiar a identificarem os sintomas de insuficiência cardíaca, o Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) dá formação específica a estes profissionais.
O objetivo é apostar no diagnóstico precoce, sinalizar casos de risco e evitar internamentos.
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A cardiologista Ana Oliveira Soares, responsável pelas ações de formação, explica que já foram feitos três cursos de atualização em insuficiência cardíaca.
Além disso, "fazemos formações muitas vezes fora do hospital para os médicos de Medicina Geral e Familiar e cerca de 100 médicos já beneficiaram desta formação. Por outro lado, temos estágios para os médicos internos de Medicina Geral e Familiar durante um mês, em que assistem a consultas de cardiologia e insuficiência cardíaca", esclarece.
Nos estágios e formações os clínicos são treinados para reconhecer os sinais e sintomas da insuficiência cardíaca que são, muitas vezes, desvalorizados pelos próprios doentes.
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"Os sintomas e sinais costumam ser vagos. Os doentes cansam-se muito, referem as pernas inchadas, falta de ar, fadiga mas, principalmente os mais idosos, atribuem esses sintomas à própria idade. As primeiras pessoas a quem recorreram são os médicos de Medicina Geral e Familiar, portanto esses médicos têm que estar atualizados para pedir exames de diagnóstico, como o ecocardiograma, e a análise de peptídeos natriuréticos", refere a cardiologista.
Ana Oliveira Soares lembra que quanto mais precoce e completo for o diagnóstico maior é a hipótese de sobrevivência: "Muitas vezes o doente chega-nos através de internamento e não por referenciação, temos que evitar isso ao máximo porque o internamento degrada muito o doente e reduz o seu tempo de vida. A insuficiência cardíaca tem uma mortalidade muito elevada, passados 5 anos 50% destes doentes podem já não estar vivos. Tem pior diagnóstico a insuficiência cardíaca do que muitos tipos de cancro, nomeadamente o cancro da mama e do cólon."
Apesar do longo caminho a percorrer, a especialista sublinha que os cursos de formação e estágios já começaram a dar frutos na sinalização dos doentes e que as referenciações são cada vez frequentes e completas em termos de exames complementares de diagnóstico.
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Tiago Ferreira, médico de Medicina Geral e Familiar, confirma que houve mudanças depois de há dois anos ter feito formação no serviço de Cardiologia do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca.
"A referenciação depois da formação que tive é muito mais direcionada, com mais critérios de escolha e mais consciente. Eu fiz a formação de cardiologia em novembro de 2018, foi um estágio opcional dentro do internato em que tive a oportunidade de ver muitos doentes com insuficiência cardíaca. Isso relembrou-me os sinais fundamentais, nomeadamente o edema dos membros inferiores e o cansaço, e alertou-me para a progressão dos sintomas nos doentes mais complexos e graves", admite.
Além dos médicos, também os doentes internados no serviço de Cardiologia do Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca são convidados a saber mais sobre insuficiência cardíaca.
"Há muitos mitos associados, medos e ideias preconcebidas e o primeiro passo é ajudar o doente a perceber que a sua doença é crónica, degenerativa, vai ter fases de agudização e ele terá de aprender a lidar com isso. O nosso objetivo é literacia em saúde", explica Catarina Alves, enfermeira especialista na área médico-cirúrgica, que dá formação aos doentes durante o período de internamento.
"Nós fazemos uma avaliação inicial de enfermagem, percebemos quais são os antecedentes, as comorbilidades, os sinais de descompensação mais visíveis e vamos fazendo ensinos dirigidos para que no final do internamento o dente tenha a capacidade de saber os sinais de alerta e descompensação, o que deve fazer no dia-a-dia para que a sua doença esteja controlada e quando deve recorrer aos serviços de saúde", sublinha a enfermeira que trabalha no serviço de cardiologia há 17 anos.
O registo do peso, por exemplo, faz parte da formação dada aos doentes. "Aumento de peso não é gordura, é retenção de líquidos, é sinal que estou a descompensar a minha doença cardíaca e tenho que ter noção que é um sinal de alarme. Para isso as pessoas devem pesar-se depois de acordar, devem urinar e devem pesar-se com uma roupa leve, tendencialmente no mesmo horário e sempre na mesma balança", explica Catarina Alves
Outro ritual passa por medir a tensão arterial. A enfermeira explica que a tensão arterial baixa pode provocar tonturas e náuseas e que pode ser preciso alterar a medicação. Além disso, explica-se a importância do registo para que o doente possa conhecer o seu padrão e para o medico poder medicar.
O doente "tem que perceber que existe o grupo de medicamentos que controlam a tensão arterial e que esses se avaliam através da medição da tensão arterial; que há medicamentos que controlam a frequência cardíaca e a forma como o coração consegue ejetar o sangue, nesse caso ensina-se o doente a fazer a medição do pulso; outro grupo é o grupo dos diuréticos, em que damos medicamentos para ajudar a eliminar os líquidos; outras vezes temos de os ajudar a tomar antidepressivos, ansiolíticos, terapêutica sonífera. Há doentes que tomam a medicação cegamente, há outros que são extremamente indisciplinados", admite a enfermeira.
Seja qual for o perfil do doente o objetivo é passar informação e conhecimento para que aprendam a viver com insuficiência cardíaca de forma autónoma e controlada.
Coração de Portugal é uma iniciativa do DN, JN e TSF com o apoio da Novartis e Medtronic