Controlo remoto de sintomas ajuda doentes com insuficiência cardíaca
Descobrir que se sofre de Insuficiência Cardíaca pode mudar uma vida, mas não significa deixar de vivê-la. A iniciativa "Coração de Portugal" dá a conhecer histórias de esperança contadas por doentes e de quem procura, com projetos e iniciativas, melhorar a vida de quem luta contra a doença. É o caso de um sistema inovador utilizado no Hospital de Santa Marta, em Lisboa.
Corpo do artigo
"A ideia é que doentes com insuficiência cardíaca grave, com ou sem aparelhos implantados, possam ser monitorizados à distância", explica Mário Oliveira, diretor da Unidade de Arritmologia do Hospital de Santa Marta, em Lisboa.
Foi com este objetivo que surgiu há cerca de um ano, nesta unidade hospitalar, um programa inovador que previve episódios de descompensação e internamentos por insuficiência cardíaca.
TSF\audio\2020\11\noticias\06\06_novembro_2020_coracao_de_portugal
O cardiologista explica que o sistema utiliza duas técnicas diferentes. No caso de doentes com aparelhos implantados "têm em casa um transmissor, regra geral na mesa de cabeceira, e quando o doente se deita o aparelho transmissor deteta a presença do aparelho que está no coração do doente, comunica por Bluetooth e avalia os parâmetros. Se houver alertas (por exemplo, se o doente tiver acumulação de líquido nos pulmões ou uma arritmia) nós recebemos informação, caso contrário há transmissão regular de três em três meses, mesmo que esteja tudo bem", esclarece.
Na prática, sempre que há um alerta o transmissor em casa do doente comunica a informação à Unidade de Arritmologia do hospital, onde se encontra uma equipa multidisciplinar que interpretar os sinais e define se há, ou não, necessidade de marcar consulta.
O clínico garante que apesar de o acompanhamento ser feito à distância é totalmente individualizado. "O aparelho transmite informação sobre a atividade do doente, frequência cardíaca, alterações do sistema nervoso autónomo, aparecimento de arritmias, acumulação de líquido a nível pulmonar, entre outros fatores, e a conjugação destas variáveis é uma forma muito individualizada de perceber se aquela pessoa está em risco. Quando necessário esse doente é encaminhado ao hospital, portanto é muito importante do ponto de vista de prognóstico, evolução clínica e até de custos antecipar a descompensação para podermos prevenir o internamento", afirma.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2020/11/corac_20201106115145/hls/video.m3u8
O programa de monitorização remota utiliza ainda outra técnica, a transmissão de dados através de periféricos, no caso de doentes sem aparelhos implantados. "Esses doentes têm em casa um grupo de periféricos que permitem a automonitorização. Nós fornecemos ao doente um relógio que nos dá o número de passos que ele faz por dia, a frequência cardíaca e a saturação de oxigénio no sangue. O doente tem também uma balança onde faz pesagem regular e um aparelho para medir a pressão arterial. Estes periféricos contactam depois com um smartphone por Bluetooth cada vez que o doente faz uma medição e a equipa da insuficiência cardíaca monitoriza à distância os dados que recebe. Neste caso, os doentes são selecionados não só pelo risco mas têm também de ser autossuficientes, responsáveis e cumpridores com a autoavaliação em casa para que essa informação chegue até nós", sublinha Mário Oliveira.
O cardiologista, que é também electrofisiologista, explica que neste momento o programa é aplicado a cerca de 80 doentes e os resultados são muito positivos: "São doente que tinham tido internamentos prévios de insuficiência cardíaca e tentamos evitar que tenham internamentos sucessivos."
Em plena pandemia, o programa tecnológico ganha ainda mais destaque: "O que nós percebemos é que a tecnologia nos pode ajudar a estar mais perto destes doentes sem eles estarem fisicamente no hospital, e este é um tema que tem sido imensamente discutido nesta fase pandémica. Os resultados são extremamente positivos e estamos a começar a apresentá-los em congressos virtuais", refere.
O objetivo é aumentar o número de doentes que podem beneficiar deste sistema inovador, continuar a melhorar os prognósticos e reduzir os custos associados aos internamentos.
Coração de Portugal é uma iniciativa do DN, JN e TSF com o apoio da Novartis e Medtronic.