"Desalinhamento" no PS? O que diz Pedro Nuno Santos que contradiz António Costa
António Costa piscou o olho aos liberais europeus, mas Pedro Nuno Santos diz que é preciso manter a "tensão" entre as duas famílias políticas. E há quem não deixe escapar a contradição.
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Enquanto António Costa defende que vai ser preciso construir alianças, numa espécie de frente europeísta contra os populismos, Pedro Nuno Santos defende uma separação clara entre liberais e socialistas no Parlamento Europeu.
Esta terça-feira num comício em Aveiro, o dirigente e ministro socialista disse que era necessário traçar "uma linha divisória muito clara entre liberais e socialistas", assumindo mesmo uma dialética de "tensão permanente" face aos liberais.
António Costa tem de clarificar qual é o caminho que quer seguir.
Num discurso em que fez uma espécie de autocrítica do PS em governos passados [António Guterres e José Sócrates] por se ter aproximado do centro direita, Pedro Nuno Santos, deixou recados sobre qual a estratégia que defende para o seu partido no plano europeu.
Esta semana, antes de um encontro com o presidente francês Emmanuel Macron, António Costa, defendeu que, sem maioria no Parlamento Europeu, os socialistas vão ter de "construir alianças".
"Precisamos de construir uma grande coligação de democratas e progressistas", disse o secretário-geral do PS ao lado de Emmanuel Macron, depois de um jantar no palácio presidencial do Eliseu, em Paris.
Marisa Matias já pediu a António Costa que clarifique a posição do PS face a eventuais coligações com as famílias mais liberais e conservadoras da União Europeia e diga aos eleitores se o PS quer ir pela esquerda ou pela direita.
"António Costa tem de clarificar qual é o caminho que quer seguir: se quer seguir o caminho que seguiu em Portugal, um caminho de, à esquerda, procurar acordo naquilo que era preciso ter acordo e melhorar a vida da pessoas, se é o caminho de se juntar àqueles que fizeram o contrário e promovem o contrário na União Europeia", desafiou.
A eurodeputada recandidata assumiu que não sabe o que "está na cabeça de António Costa", mas considera que "ao longo das eleições europeias e desta campanha, [Costa] tem estado a trabalhar nesta aliança bizarra com os liberais de direita".
Par Marisa Matias, "qualquer que seja a manobra, a jogada que António Costa esteja a fazer neste momento, que eu não sei qual, nesta aliança com os liberais de direita terá implicações no futuro não só no Parlamento Europeu, mas também a nível nacional".
Há um "desalinhamento" no Partido Socialista, considera também David Justino. Esta quarta-feira em declarações à TSF no programa "Almoços Grátis", o social-democrata notou a falta de "sintonia" entre os socialistas.
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"Desalinhamento é ver o que o António Costa andou a fazer em Paris, junto de Macron, no sentido de formar uma coligação de democratas e progressistas, e depois ser criticado explicitamente por Pedro Nuno Santos em Aveiro relativamente a esta."
"Fiquei surpreendido", admite David Justino. "Anda António Costa a tentar encontrar soluções para o dia depois das eleições e o que o ministro Pedro Nuno Santos aquilo faz é, encostando-se ao Bloco de Esquerda, fazer uma crítica indireta - mas explícita - ao secretário-geral do PS."
António Costa ainda não se manifestou sobre o caso, mas o cabeça de lista do PS às europeias, Pedro Marques, já disse que "não há qualquer contradição" entre quem quer os socialistas europeus a dialogarem e a coligarem-se com as famílias liberais e conservadoras e quem prefere um PS a olhar mais para a esquerda.
"Eu já tenho dito que nós temos que construir uma coligação de europeístas contra a extrema-direita, contra os nacionalistas, contra a xenofobia. Essa coligação pode incluir gente da minha família política, gente da família conservadora, gente da família liberal, desde que não se passe essa barreira da xenofobia, da extrema-direita e dos nacionalismos", disse esta quarta-feira o 'número um' do PS às europeias durante uma ação de campanha no Montijo.
"Há diferenças políticas entre nós e a direita, claramente, e entre nós e os liberais também, depois, nas escolhas que se fazem para o avanço do projeto europeu", salientou.