"Estamos expectantes para a segunda vaga da pandemia. Nenhuma empresa lida bem com a incerteza"
A Clínica Dentária Santa Catarina é protagonista de mais uma rubrica da série "Reboot Portugal". Que especificidades tem esta área de negócio? Como sobreviveu à primeira vaga de Covid-19? As respostas estão no texto que se segue.
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O historial é longo. O início da Clínica Dentária Santa Catarina remete-nos para 1968. Foi nesse ano que Albertino Sousa Carvalho arrancou com a atividade, na área da medicina dentária. Há cerca de oito anos, Paulo Carvalho, que trabalhou com o fundador, faz acontecer um ponto de viragem, assumindo a direção clínica do negócio. Ele e o arquiteto Paulo Silva têm, desde então, os destinos da Clínica Dentária Santa Catarina em mãos, onde dão trabalho a cerca de vinte e cinco pessoas, entre colaboradores e funcionários fixos.
Paulo Carvalho diz que começou assim a desenhar-se uma "história diferente, pegando na familiaridade que já caracterizava a clínica, mas com uma resposta mais moderna. Mais atualizada, mais multidisciplinar e com recurso a outras tecnologias. Desta forma damos uma resposta diferente aos mesmos clientes e agora alargamos a um público mais generalizado, uma vez que também temos mais profissionais a trabalhar connosco".
Entre as novidades implementadas por Paulo Carvalho destaca-se "uma visão multidisciplinar da área. Estamos cientes que a boca é um órgão, ou seja, um conjunto de estruturas que funcionam interligadas como um órgão bastante complexo e isso exige diferentes especialidades que possam dar uma resposta mais capaz às exigências dos nossos clientes. Isso implica termos profissionais diferenciados que estão constantemente a apostar na sua formação contínua, que aliada às tecnologias certas, permite dar uma resposta muito mais eficaz".
O diretor clínico da Clínica Dentária Santa Catarina, que tem uma carteira de cerca de vinte mil clientes, explica que, entre as várias especialidades ali existentes, há diversas valências mais complexas em termos técnicos, como" Implantologia, Ortodontia e Reabilitação Oral Estética". Paulo Carvalho refere que só com este leque de especialistas e com novas técnicas é possível apostar, também, na "prevenção e atos médicos com mais previsibilidade e com mais segurança, para além de notar uma maior exatidão e uma taxa de risco muito reduzida.
O INÍCIO DA PANDEMIA
"Foi tudo tão gradual, como súbito, ao mesmo tempo". Paulo Carvalho descreve deste forma os primeiros dias em que Portugal se viu confrontado com a Covid-19.
"Eu estava fora do país, numa conferência, por isso inicialmente acompanhei à distância o que ia acontecendo, num país onde o novo coronavírus ainda não tinha chegado e onde havia pouca informação sobre a doença", recorda o responsável da Clínica Dentária Santa Catarina.
Quando chegou, Paulo Carvalho e toda a equipa tomaram "rapidamente consciência do que estava a acontecer e tivemos de tomar medidas de forma célere, com base nas informações que íamos tendo e que eram escassas".
Desde o primeiro minuto, Paulo Carvalho decidiu que "não era hora de virar a cara à luta. Não deitámos as mãos à cabeça, porque não é o nosso feitio. Já passámos coisas piores, não era agora que mudaríamos".
Os tempos adivinham-se duros e exigentes, por isso a preocupação cimeira foi a "de garantir a segurança e a saúde de todos. Dos médicos, dos colaboradores e dos pacientes. Durante o estado de emergência era também muito importante termos condições para atender aos casos mais urgentes. Era essencial. E dentro daquilo que nos era possível, ainda que estivéssemos encerrados, nunca deixámos ficar um paciente sem resposta e sempre atendemos as urgências, dentro das limitações que havia".
IMPACTO FINANCEIRO
Privada de faturação, durante o confinamento obrigatório, a Clínica Dentária Santa Catarina viu-se obrigada a recorrer ao lay-off, face aos custos salariais elevados, em contraponto com uma atividade nula.
Paulo Carvalho, diretor clínico, sublinha, ainda, que "numa empresa com esta envergadura e com a especificidade da medicina dentária, que é uma área que vários equipamentos para suportar, e com muitos custos inerentes, essa ajuda [lay-off] foi uma pequena gota no oceano. Foi uma ajuda necessária, mas não suficiente, durante os dois meses em que vigorou aqui".
O tom crítico alastra-se também a outras falhas detetadas por Paulo Carvalho, como "para além da ausência de respostas e de ajudas, houve também ausência de linhas orientadoras por parte das autoridades e das entidades competentes para nos dizerem o que era preciso mudar na nossa prática clínica. Havia necessidade de, para nós programarmos a nossa retoma, termos tido mais antecipadamente essas orientações".
REGRAS SANITÁRIAS
A higiene e segurança são dois conceitos que desde sempre fazem parte do quotidiano de uma clínica dentária. A pandemia, neste capítulo, não trouxe muitas alterações. "Nós sempre lidámos com vários agentes, já nos protegíamos, por exemplo, da Hepatite, do HIV. Por isso, a infeção cruzada sempre foi uma questão central e a prevenção existe desde sempre e foi sempre rigorosa".
As condições de acesso à clínica estão praticamente inalteradas, com exceção de alguns procedimentos decorrentes da Covid-19. O ciclo de esterilização começa com a medição da temperatura corporal de todos os pacientes antes da entrada no espaço. Depois de passar a porta, o paciente tem, também, de passar o calçado por um tapete desinfetante e passar as mãos por álcool gel.
SEGUNDA VAGA - E AGORA?
Paulo Carvalho começa por afirmar que em termos de segurança e higiene, todos os procedimentos, para evitar uma infeção cruzada, são para manter.
O que pode mudar, então? A incerteza do futuro.
O diretor clínico da Clínica Dentária Santa Catarina considera que a maior dúvida reside no impacto socioeconómico que uma segunda vaga pode provocar. "Por agora, só podemos garantir que mais uma vez não baixaremos os braços. Estamos expectantes... Vamos tentar perceber o que é que vai acontecer, tal como em todas as áreas de atuação e todo o país. Sinto que a acontecer algo, será mais uma vez de repente e nenhuma empresa lida bem com isso. Mas, repito, estamos expectantes".