Gestão em rede e formação: passos para controlar a Insuficiência Cardíaca em Portugal
Apostar na sensibilização da comunidade e dos decisores políticos, investir na formação especializada de profissionais e otimizar a gestão e monitorização dos cuidados de saúde. São as prioridades definidas pelo grupo de trabalho responsável pelo relatório "Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca em Portugal". O documento final foi apresentado na primeira sessão do ciclo de conferências online que o Global Media Group, com o apoio da Novartis e da Medtronic, realiza até amanhã, dia 8, das 18h30 às 20h00.
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Estima-se que haja em Portugal 400 mil pessoas com insuficiência cardíaca (IC), mas nem sempre a doença é reconhecida como uma síndrome de elevada morbilidade e mortalidade no nosso país.
Além dos custos humanos, o impacto da IC nas contas do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é tremendo: representa a terceira causa mais comum de hospitalização e um em cada cinco doentes é readmitido, pelo menos uma vez, um ano após a alta médica, o que representa um custo anual de quase 30 milhões de euros.
Ainda assim, Portugal carece de uma estratégia coordenada para combater a patologia.
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Foi com base neste pressuposto que surgiu o relatório "Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca em Portugal", um trabalho conjunto de vários especialistas, entre médicos, enfermeiros, autoridades de saúde, associações de doentes e indústria farmacêutica.
A metodologia do trabalho ficou a cargo da Universidade Católica e o financiamento foi assegurado pela Medtronic e pela Novartis, que puseram à disposição o seu poder de veto sobre o conteúdo do documento final.
As conclusões do documento foram divulgadas esta terça-feira, no primeiro dia do ciclo de conferências subordinadas ao tema "Insuficiência cardíaca: Uma estratégia para Portugal", que o Global Media Group realiza até 8 de outubro, com o apoio da Novartis e da Medtronic.
Sara Marques, coordenadora do estudo, revela as principais falhas identificadas no sistema: " Há falta de sensibilização e estratégias de prevenção da IC, de estruturas, de financiamento e formação, falhas na organização e na continuidade de cuidados, na monitorização e avaliação e, por fim, no empoderamento e nos cuidados paliativos."
A especialista, que é também representante da rede multidisciplinar europeia Heart Failure Policy Network, sulinha que é urgente melhorar a sensibilização para a IC, integrar, avaliar e financiar cuidados especializados e garantir a formação de profissionais de saúde de diversas áreas.
Um dos exemplos apontados no debate foi precisamente a importância de ter indicadores sobre hospitalizações associadas à insuficiência cardíaca. "É absolutamente crucial compreender se os cuidados em IC estão a conseguir diminuir as hospitalizações, que são muito frequentes nesta patologia, muito exigentes para os doentes e caríssimas para o SNS", refere Sara Marques.
Além de mais e melhor informação para traçar o retrato da insuficiência cardíaca em Portugal, os especialistas concluíram que é urgente otimizar o processo de da diagnóstico, o que pode passar por um simples teste. "O acesso ao teste de doseamento peptídeos natriuréticos é absolutamente crucial. O teste não dá um diagnóstico definitivo, que tem de ser feito com um ecocardiograma, mas o resultado mostra se a pessoa poderá ou não ter IC. Ou seja, se os médicos de família tiverem acesso a este teste poderão identificar melhor quem precisa de ir para serviços de cardiologia e quem não precisa", afirma a coordenadora do estudo.
Quanto ao tratamento da IC, o grupo de trabalho considera que um dos eixos centrais passa pela criação de um processo assistencial integrado, que irá permitir direcionar os cuidados de saúde para as necessidades de cada doente.
Sara Marques explica que "nos primeiros três meses de alta hospitalar há uma percentagem muito alta de pessoas com IC que volta para o hospital e isso mostra que não está a existir uma transição adequada do hospital para os cuidados em ambulatório, daí haver a necessidade de um processo assistencial integrado".
O ciclo de conferências subordinadas ao tema "Insuficiência cardíaca: Uma estratégia para Portugal" continua esta tarde, entre as 18h30 e as 20h00, e poderá ser acompanhado em direto nos sites da TSF, DN e JN. Mais informações em CORACAODEPORTUGAL.DN.PT