A insuficiência cardíaca pode ser potencialmente curável. Muito depende do plano de tratamento que é traçado para cada paciente. Uma das chaves para o sucesso passa por garantir um acompanhamento multidisciplinar e integrado.
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A insuficiência cardíaca, pela sua complexidade, é, efetivamente, uma situação clínica que exige um trabalho de equipa. Se isso acontecer, acontece magia".
As palavras são da autoria de António Silva Cardoso. O coordenador do Grupo de Estudo de Insuficiência Cardíaca, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, alerta para a evolução da doença, que pode começar tímida, mas ter um fim trágico.
"Esta é uma doença mortal. As pessoas desconhecem isso, mas a mortalidade na insuficiência cardíaca é maior do que a de muitos cancros comuns. Se no princípio pode passar despercebida, no final, o avolumar dos sintomas é uma forte causa para uma diminuição muito grande da qualidade de vida".
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Para este especialista, a Insuficiência Cardíaca é uma doença, cujo acompanhamento, deve envolver três especialidades clínicas.
"A Cardiologia, a Medicina Interna e a Medicina geral e Familiar".
Nuno Jacinto é presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar - um dos três vértices de um diagnóstico que se quer multidisciplinar e integrado - e defende que o processo deve começar nos centros de saúde.
"O médico de família tem que estar apto, e está apto, a saber quais são as classes de fármacos que são importantes, que modificam o prognóstico, ou seja, que modificam esta evolução da doença, que ajudam a reduzir esta probabilidade de uma agudização, de uma descompensação, que ajudam a reduzir a probabilidade da morte súbita e que melhoram a qualidade de vida do doente. Isso também é muito importante. Mais do que tratarmos um número ou um exame é fazer com que o doente tenha uma melhor qualidade de vida. Este doente vai estar sempre connosco, portanto nunca podemos achar que, agora, o doente com insuficiência cardíaca está no hospital, é só da Cardiologia, já não tenho nenhum trabalho a fazer".
Dar início ao tratamento é a grande prioridade, quando a doença é diagnosticada. Descobrir a sua causa, em cada doente é a fase seguinte, e igualmente importante.
Mário Santos, Cardiologista no Hospital de Santo António, do Centro Hospitalar Universitário do Porto, explica o papel desta especialidade, em todo o processo.
"O importante é perceber se o doente com insuficiência cardíaca, que temos à frente, tem o diagnóstico correctamente feito, tem a causa correctamente identificada e se tem acesso às opções terapêuticas individualizadas para o seu tipo de insuficiência cardíaca".
A insuficiência cardíaca é uma doença mortal. Cerca de metade dos doentes não sobrevive cinco anos depois do diagnóstico. Joana Pimenta, do serviço de Medicina Interna do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, refe que o grande objectivo, nesta unidade, é evitar o internamento. É sempre um sinal positivo.
"É no internamento, quando as pessoas são internadas por uma causa relacionada com a insuficiência cardíaca, normalmente por descompensação, cansaço, agravamento do estado de saúde, ou retenção de líquidos, é nessa altura que um internista aborda o doente no internamento. Nós sabemos que quando o doente chega ao patamar de internamento tem a sua doença já num estado de risco muito alto. Até por isso, é muito importante evitar que isso aconteça. Podemos evitá-lo, se conseguirmos compensar o doente e tratá-lo mais cedo ".
A par das três especialidades que são a base de um tratamento eficaz, a insuficiência cardíaca é uma doença em que o conhecimento e o acompanhamento de fisioterapeutas, psicólogos, enfermeiros, farmacêuticos e assistentes sociais é de primordial importância. Afinal, esta é uma doença mortal, mas é também potencialmente curável.
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