Insuficiência cardiaca. Perguntas que se repetem no consultório
Algumas das questões que os médicos ouvem nas consultas e as respostas que, dizem os especialistas, devem ser explicadas e repetidas.
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O médico Carlos Aguiar lembra que há questões que se repetem nos consultórios. Dúvidas que exigem dos clínicos capacidade para alertar, explicar, compreender e repetir concelhos aos pacientes.
Será o número de medicamentos que tomo um excesso?
A insuficiência cardíaca obriga à toma de vários medicamentos. Alguns para a melhoria dos sintomas, outros para travar a progressão da doença. Importa saber que a insuficiência cárdica para além de dar sintomas que podem ser incapacitantes até para atividades para a vida diária, como vestimo-nos ou tomar banho, é uma doença crónica e por isso tem tendência" se deixada à solta" poderá ir piorando.
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Os medicamentos sintomáticos, usados para controlar sintomas, são doseados de acordo com a necessidade. É possível aumentar os medicamentos ou reduzir em função os sintomas. Tal e qual como quando temos febre, tomando algo para descer a temperatura mas, quando não temos febre, já não precisamos de tomar.
Os medicamentos para a progressão das doenças devem ser tomados 100% de acordo com o recomendado pelo médico. O doente, numa fase inicial, é natural que perceba que o medico vai aumentar progressivamente a dose desses medicamentos. Eles devem ser administrados nas doses máximas toleradas, porque só assim se tem a garantia de que a doença está sob controlo.
A insuficiência cardíaca é a doença cardíaca que mais anos de vida retira ao doente. Alguém com 60 anos de idade, que acaba de receber o diagnóstico de insuficiência cardíaca, provavelmente vai viver 16 ou 17 anos menos - em relação à esperança média de vida - do que iria viver se não lhe tivesse sido diagnosticada a doença.
A medicina ao longo das últimas quatro décadas evoluiu de forma tremenda nesta área. Descobriu terapêuticas que, somadas, com base farmacológicas ou à base de dispositivos elétricos, que acrescentam tempo recuperado de vida, minimizando desta forma o impacto da doença na esperança média de vida.
Pode ou não um doente com insuficiência cardíaca praticar atividade física?
O doente com insuficiência cardíaca pode e deve fazer exercício físico. Está demonstrado que o exercício físico nestas pessoas treina o coração, os pulmões e os músculos esqueléticos, as três componentes que devem funcionar em coordenação para tornar possível ter uma boa tolerância ao esforço. Isso significa ter uma boa resistência física, estar-se melhor, menos sintomático, com melhor qualidade de vida, mais apto para fazer aquilo que outras pessoas, sem insuficiência cardíaca, fazem com maior facilidade.
O exercício físico que é recomendado para as pessoas com insuficiência cardíaca é condicionado pelas limitações ortopédicas ou outras - muitos dos doentes estão na terceira idade -, mas não estamos a falar de exercícios físicos muito difíceis. Até o simples andar já é algo bastante bom mas, também está incluído no recomendado, algum exercício de resistência com baixa intensidade.
É frequente começarmos o treino físico ou preparação física para os doentes com insuficiência cardíaca referenciando-os a um programa de reabilitação cárdica. Há já vários dispersos pelo país, infelizmente não tantos quanto necessário, incluindo algumas regiões como Centro e o Alentejo que não tem rede de reabilitação cardíaca, estando o Ministério da Saúde a tentar alargar esta rede.
O doente tem uma avaliação com o médico, faz uma prova de esforço para definir qual a capacidade que tem, e depois, os treinos são feitos sob orientação dos fisioterapeutas, com acompanhamento médico, de enfermagem, médicos de medicina desportiva, profissionais de saúde de diferentes áreas que seguem estes doentes.
Uma vez ensinados a fazer aquilo que é saudável e adaptado aos doentes, estes podem passar a fazer os exercícios fora destes programas de educação. Os resultados são fantásticos. Alguns dos meus doentes tem mostrado um grau de satisfação que chega a ser mais entusiasta do que a satisfação que me denotam depois de ficarem melhores dos sintomas através do tratamento com medicamentos para a insuficiência cardíaca (...) Esta prática mantem os doentes mais tempo longe da necessidade de hospitalização, mais tempo sob uma terapêutica estável, subindo e descendo doses, e ganham muito em relação há qualidade de vida.
As bebidas alcoólicas devem ter lugar na dieta dos doentes com insuficiência cárdica?
Quem tem insuficiência cardíaca deve evitar bebidas alcoólicas a todo o custo. Para ter insuficiência cárdica há, geralmente, alguma doença do musculo do coração - miocárdio - que pode ser uma doença primária ou porque o miocárdio foi apanhado nas consequências de uma outra doença cardíaca que o afetou. O musculo do coração é altamente sensível ao álcool. O álcool é tóxico para este músculo.
O álcool aumenta a excitabilidade elétrica do coração e, com isso, favorece o aparecimento de arritmias, que descompensação e são perigosas para a vida das pessoas que têm insuficiência cardíaca. Por isso, a insuficiência cardíaca faz parte das poucas doenças cardíacas para as quais se recomenda que se evite totalmente o álcool.
Nos cuidados alimentares, o mais importante passa pelo controlo do uso do sal. Por causa da doença e das suas consequências a nível renal, há tendência para acumular sal. É por isso que as pessoas com insuficiência cardíaca incham, porque o sal acumula a água, e temos por isso de recorrer aos diuréticos para melhorar diversos sintomas de retenção hídrica e salina. Se consumirmos mais sal do que o necessário isso poderá traduzir-se em pernas ou barriga inchadas mas também a falta de ar, porque os líquidos também se acumulam a nível pulmonar.
Numa pessoa não muito compensada, o consumo excessiva de sal numa refeição pode desencadear uma situação aguda, chamada edema agudo do pulmão, que coloca em risco a vida da pessoa.
Costumamos recomendar que as pessoas substituam o sal por ervas aromáticas de maneira a manter a doença mais controlado do ponto de vista sintomático.