A insuficiência cardíaca afeta cerca de 400 mil portugueses e é terceira causa mais comum de internamentos no Serviço Nacional de Saúde, mas apesar de ser um mal comum, com tremendo impacto socioeconómico, os especialistas lamentam a "profunda falta de informação" entre médicos e doentes.
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Estima-se que em 2060 haja meio milhão de portugueses com insuficiência cardíaca (IC), mas a consciência para o problema e a existência de uma resposta estruturada, tardam em tornar-se realidade.
Luís Rocha, Diretor de Assuntos Institucionais e Acesso ao Medicamento da Novartis, sublinha que a Covid 19 trouxe desafios acrescidos para quem lida com a IC: "O quadro de pandemia acrescentou uma complicação porque esta doença afeta pessoas com idades mais avançadas e é muito importante que consigamos garantir o controlo da doença para evitar fenómenos de descompensação que terminam, regra geral, em internamentos."
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Entrevista pela TSF, também Luís Lopes Pereira, Diretor-geral da Medtronic, partilha desta opinião. "A pandemia trouxe um maior receio por parte dos doentes em deslocarem-se aos hospitais porque não querem correr o risco de contrariar o vírus, e este receio levou à desvalorização de sintomas. Por outro lado, a pandemia levou a que os hospitais estivessem mais focados, o que resultou em cancelamentos e adiamentos de consultas e cirurgias, o que foi terrível. Os doentes que estão agora a responder à chamada de listas de espera estão em muito piores condições, com a patologia muito mais desenvolvida."
Além de consequências na identificação de sintomas, Luís Lopes Pereira salienta o impacto profundo do novo coronavírus na dinâmica do tratamento. "Na parte da tecnologia e do tratamento nós continuamos com médias muito baixas em relação à Europa. Estamos a 50%, em comparação com os países com melhores performances nesta terapia. A pandemia veio diminuir as taxas de implante e é um desafio acrescido para todos".
No caso da Medtronic, o Diretor-geral explica que a empresa foi obrigada a reinventar-se para contornar o impacto da pandemia, nomeadamente com a criação de sistemas de telemonitorização dos dispositivos médicos para controlo da IC.
"Os doentes que têm o dispositivo implantando precisam de ser monitorizados e a nossa reinvenção foi tentar que esses doentes não viessem ao hospital fazer o follow up. Para isso criámos sistemas de telemonitorização onde se pode fazer não só o controlo do dispositivo médico, como também otimizar o tratamento que esses doentes podem ter do ponto de vista farmacológico."
No plano da prevenção, o Diretor de Assuntos Institucionais e Acesso ao Medicamento da Novartis, salienta que um dos principais desafios é o diagnóstico precoce da IC. "Se nós atuarmos muito cedo conseguimos evitar o impacto muitíssimo forte que este tipo de patologias e doentes exerce sobre o sistema de saúde e podemos obviamente melhorar muito as condições de vida destas pessoas", refere Luís Rocha.
Para isso, denota, é urgente trabalhar numa estratégia coordenada para a prevenção e tratamento da insuficiência cardíaca. "Primeiro obviamente numa estratégia de prevenção, de diagnóstico e identificação precoce dos sinais de insuficiência cardíaca, e depois na gestão da doença e melhor coordenação e articulação entre cuidados primários e secundários, e em caso de especialização quando os doentes regressam à sua comunidade, para que haja um acompanhamento de maior proximidade adequado ao seu quadro clínico por parte do médico de família".
Também Luís Lopes Pereira, Diretor-geral da Medtronic, lamenta a falta de informação geral sobre a patologia em Portugal: "Há uma falta de conhecimento profundo, não só por parte dos médicos mas também dos doentes, e falta uma rede de referenciação que funcione bem. É muito importante criarmos essa rede e uma forma de estarmos mais próximos dos doentes que estão a ser tratados, e aí a monitorização remota é muito importante."
Questões que vão ser debatidas a partir de hoje, e até à próxima quinta-feira, no Ciclo de Conferências Insuficiência Cardíaca: uma Estratégia para Portugal. Para assistir em direto basta ir a CORACAODEPORTUGAL.DN.PT. O projeto Coração de Portugal é uma iniciativa da TSF, JN e DN em parceria com a Novartis e a Medtronic.
Mais informação em coracaodeportugal.dn.pt