Insuficiente cardíaca: o doente é peça fundamental no controlo da doença
A insuficiência cardíaca é uma doença crónica, progressiva e com uma taxa de mortalidade elevada. O diagnóstico precoce é fundamental para garantir ao doente uma abordagem eficaz, na qual ele assume um importante papel na vigilância e no controlo da patologia.
Corpo do artigo
A vida de Susana Gabriel mudou quando, aos 35 anos descobriu que sofre de insuficiência cardíaca. Nos exames de rotina nunca fora detetado qualquer problema.
A surpresa chegou quando esta arqueóloga fez análises para despistar uma situação de hipoglicemia.
A consulta, com uma médica que não a seguia habitualmente, foi o primeiro passo para descobrir e prevenir uma nova forma de viver.
TSF\audio\2021\11\noticias\08\08_novembro_2021_coracao_de_portugal_sonia_santos_silva
"Nunca tive problemas de coração, nunca tinha detectado. De vez em quando, talvez de ano a ano, ou de dois em dois anos, fazia um electrocardiograma para ver se estava tudo bem, naqueles check-up de rotina que nós fazemos normalmente e nunca tinha sido detectado nada. Foi mesmo uma coincidência ter passado por uma situação que tinha os açúcares em baixo e a médica, como era nova porque tinha vindo substituir o meu médico de família, quis auscultar-me e foi aí que se apercebeu que o meu coração batia a duas velocidades".
Ultrapassado o susto, com a confirmação do diagnóstico, Susana Gabriel não desistiu de ter a vida que tinha. Para isso acatou, sem reservas, o tratamento médico sugerido.
"Tenho um médico muito bom. Ele decidiu colocar o CRTD [dispositivo de Ressincronização Cardíaca acoplados a um desfibrilhador] para eu ter uma vida quase normal. Temos um aparelho que envia os dados regularmente, não sabemos em que dias, e directamente para o cardiologista. Então tenho que andar sempre com o aparelho atrás. É uma aparelho que se põe na mesa de cabeceira, parece um telefone, é o que temos de andar sempre atrás, de resto temos de tomar a medicação a horas, tentar não stressar muito... são os cuidados que temos".
Gonçalo Proença, cardiologista no Hospital de Cascais, sublinha a importância de um acompanhamento contínuo dos doentes e da sua colaboração no processo.
"O empoderamento do doente é muito importante em todas as áreas, na insuficiência cardíaca é absolutamente crítica. O doente tem de conhecer a sua situação. O doente tem que saber manejar minimamente a sua medicação. Tem que saber a importância de ter uma boa adesão à terapêutica. Os doentes têm que conhecer sinais precoces de instabilização da doença, para poderem actuar em conformidade. Tudo isto não se consegue com uma conversa de quinze minutos, tudo isto requer uma abordagem repetitiva, em que cada vez que o doente toma contacto com o médico, há um processo de educação, há um processo de ensino".
Américo Gonçalves nunca praticou hábitos regulares de ida ao médico. Tocar piano, durante horas a fio era o seu principal interesse a actividade, mas um enfarte do miocárdio transformou a sua visão.
"Como doente, nunca fui um bom cliente. Nunca ia ao médico. Tive alguns sintomas e se eu tinha ido logo ao médico, passei a saber isso depois, eu provavelmente não teria tido o enfarte, que mudou completamente a minha vida".
O combate e o controlo desta patologia é um trabalho de equipa. No entanto, e para ser eficaz é preciso dotar os pacientes de informação, como defende Luís Filipe Pereira, presidente da Associação de Apoio ao Doente com Insuficiência Cardíaca.
"Há pouca literacia em saúde. As pessoas não têm formação suficiente, ou não são alertadas para os riscos que correm. Se nós dermos informação às pessoas, e devia ser logo a partir dos bancos da escola, as pessoas passavam a ter, pelo menos, uma informação que deles também depende a sua saúde.
Estima-se que há, em Portugal, mais de quatrocentas mil pessoas quer sofrem de insuficiência cardíaca... Um número que poderá atingir o meio milhão até 2060.
Coração de Portugal é uma iniciativa do DN, JN e TSF com o apoio da Novartis e Medtronic