"Mais hora para trás ou para a frente, os medicamento são sagrados"
Descobrir que se sofre de insuficiência cardíaca pode mudar uma vida, mas não significa deixar de vivê-la. A iniciativa "Coração de Portugal" dá a conhecer histórias de esperança contadas por doentes e de quem procura, com projetos e iniciativas, melhorar a vida de quem luta contra a doença.
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Foi há seis meses que Paulo Silva deu entrada na urgência do Hospital de Lamego: "No prazo de uma semana comecei a sentir uma falta de ar fora do comum, pernas muito inchadas e recorri à urgência num estado muito complicado."
Aos 72 anos descobriu que sofria de insuficiência cardíaca e admite que não foi fácil aceitar o diagnóstico. "Ficamos sempre preocupados e há uma série de limitações. No princípio o cansaço seguido fez-me andar uns dias à deriva, mas depois fui fazendo os exames e com a medicação melhorei bastante", reconhece.
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Rui Rodrigues, especialista em medicina interna no Hospital de Lamego, estava de serviço na urgência nesse dia. Foi ele que observou Paulo Silva e o encaminhou para a consulta de insuficiência cardíaca que estava precisamente a dar os primeiros passos no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro.
"Eu trabalho no Hospital de Lamego, que pertence ao Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, e já há alguma tempo que um conjunto de internistas que se dedica especialmente a esta aérea sentiu a necessidade de tentar fazer algo mais pelos doentes. A criação da consulta multidisciplinar e multicêntrica, porque foi organizada nos três hospitais que pertencem ao Centro, surge nesse âmbito. Desde o início de 2020 que nos estávamos a organizar, infelizmente o contexto da pandemia acabou por atrasar um pouco, mas o que é certo é que em plena pandemia decidimos arrancar com a consulta", explica o médico.
Neste momento são acompanhados cerca de 20 doentes na consulta de insuficiência cardíaca do Hospital de Lamego e o coordenador Rui Rodrigues considera que o balanço é muito positivo: "Parte destes doentes já teria tido uma intercorrência e necessidade de internamento. Acreditamos que não só estamos a dar qualidade de vida, mas também longevidade".
O internista explica ainda que, para prevenir internamentos, os doentes são acompanhados de forma regular e têm acesso facilitado aos profissionais de saúde: "São doentes que descompensam facilmente, necessitam de uma vigilância bastante apertada, e por isso decidimos fazer uma consulta que se estende para lá do hospital. Estes doentes têm um fácil acesso ao contacto telefónico dos médicos e enfermeiros e são doentes que avaliamos de uma forma muito regular. Além disso, criámos um hospital de dia com capacidade de lhes dar resposta terapêutica quase no imediato e essa é a grande virtude". Exemplo disso mesmo é a terapêutica endovenosa que é administrada aos doentes no hospital de dia.
O objetivo, explica o coordenador da consulta de insuficiência cardíaca do Hospital de Lamego, é manter os doentes bem, mas longe dos serviços de saúde.
"Estamos a tentar gerir os doentes em ambulatório e evitar que eles tenham internamentos, que muitas vezes são complexos pelo risco de infeção e intercorrências. Estamos também a procurar pontes com os cuidados de saúde primários para que os doentes tenham um corredor dentro do hospital evitando internamentos. Nós queremos os nossos doentes em casa, bem, mas em casa."
Além disso, a consulta aposta na formação e sensibilização dos médicos de família, para que os sinais e sintomas não passem despercebidos: "Para que ao mínimo indício de insuficiência cardíaca, o doente seja referenciado para a nossa consulta. O que nós queremos é apanhar os doentes numa fase precoce para realmente alterarmos o prognóstico deles. Queremos apostar na formação, em publicar, porque queremos que os médicos mais novos, em formação, percebam que a insuficiência cardíaca é uma doença muito importante, com uma incidência e prevalência cada vez maior na população, até por causa do envelhecimento", salienta Rui Rodrigues.
É o caso de Paulo Silva, para quem o diagnóstico de insuficiência cardíaca implica mudanças na rotina e a toma diária de medicamentos.
"Mais hora para trás ou para a frente, os medicamento são sagrados. Durante o dia faço uma vida praticamente normal, só não faço os esforços que fazia, porque eu era mecânico, mas como tenho umas propriedades vou-me entretendo com o pessoal a podar", afirma.
Além dos esforços físicos, Paulo Silva admite que tem mais limitações na alimentação: "Também tenho um certo cuidado para não comer coisas com muita gordura, mas isso nunca foi muito o meu problema. Eu comia era bastante (risos)".
Com mais ou menos sacrifício, Paulo Silva é um caso de sucesso.
Coração de Portugal é uma iniciativa do DN, JN e TSF com o apoio da Novartis e Medtronic.