"Margens que se ligam", as divisões provocadas pela nova ponte sobre o Douro.
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Autarcas, arquitetos, engenheiros, todos concordam com a necessidade de avançar com a expansão da rede de metro do Porto e de reforçar a ligação entre Porto e Gaia. Já sobre o modelo escolhido, a construção de uma nova ponte, ou a localização, as opiniões dividem-se.
Ideias defendidas na conferência "Margens que se ligam", organizada pela TSF e JN em parceria com as Câmaras Municipais do Porto e de Vila Nova de Gaia.
Rui Moreira sublinha a importância da nova travessia, mas defende que muita coisa podia ter sido feita de forma diferente. O presidente da Câmara Municipal do Porto defende que o facto de a Ponte da Arrábida estar classificada numa Zona Especial de Proteção condicionou todo o processo e não se conforma com a escolha de uma localização que diz prejudicar a cidade do Porto. "A escolha desta altura e desta entrada da ponte na malha urbana do Porto causa fortes impactos no património edificado, no campus da universidade do Porto e nas propriedades privadas. Algumas destas com particular valor pelas pessoas que lá viveram".
O presidente da Câmara Municipal de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, diz que "ultimamente têm aparecido mais especialistas em pontes do que treinadores de bancada". E acrescenta "acho insuportável ouvir opiniões ditas técnicas sem a respetiva manifestação de interesses e depois descobrir que estamos a ouvir opiniões de pessoas com interesse direto. Agora contestatários de um caderno de encargos que aceitaram ao concorrer, mas que descobriram que era muito mau somente depois de serem conhecidos os resultados." O autarca de Gaia criticou também o procedimento de contratação pública utilizado. "No atual código da contratação pública, pode escolher-se o cantor que preferimos para a festa de São João ao abrigo do designado critério material da contratação pública, mas não se pode escolher o arquiteto ou o engenheiro para uma obra de referência". Eduardo Vítor Rodrigues deixou uma sugestão: "se querem homenagear a cidade, chamem Ponte Agustina ou Ponte Sophia à nova travessia."
O presidente da Metro do Porto não poupou críticas aos que questionam os prazos deste processo. "A pressa não existe, este é um processo com maturidade elevada e se não fosse essa maturidade não tínhamos sido selecionados para projetos no âmbito do PRR".
Argumentos que não convenceram o diretor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. João Pedro Xavier diz que "ainda não é tarde para emendar a mão, seja pela correção da proposta vencedora ou pela realização de um processo concursal".
Já o presidente da Ordem dos Engenheiros, Joaquim Poças Martins, acredita que são mais os pontos de união do que de divergência. "Penso que é simples e com bom senso é possível fazer com que a ponte chegue como uma oportunidade. Alguém da Faculdade de Arquitetura pode, por exemplo, ir tomar um café ao Arrábida Shopping".
Teresa Marques, arquiteta paisagista, sublinha o impacto da nova travessia na paisagem. "Estamos a falar de uma área muito significativa da ponte sobre o vale e a ocupar uma área longa em que a largura do rio é muito significativa. Temos aqui um problema de qualidade paisagista e visual que vai ser posta em causa".
Já Álvaro Costa, engenheiro especialista em transportes, não tem dúvidas de que a nova linha de metro é fundamental para a AMP. "As travessias entre o Porto e Gaia estão bloqueadas, esta linha vai aliviar todas as outras travessias e dar um acréscimo de capacidade ao sistema".
A Conferência "Margens que se Ligam" terminou com um debate. Teresa Cálix, arquiteta e vice-diretora da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, defende que a solução escolhida não representa a necessária mudança de comportamentos. "Se temos uma ponte com não sei quantos mil carros por dia e vamos ter outra ponte ao lado para o metro, não estamos a tirar os carros da ponte".
João Teixeira, presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, afirma que a localização escolhida para a nova ponte compromete o projeto de expansão do polo universitário do campo alegre. "Há estudantes que todos os dias são obrigados a comer no chão ou nas escadas da faculdade... O projeto de expansão da polo universitário tem prevista a construção de uma cantina e de um auditório".
Paulo Farinha Marques, arquiteto paisagista e professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, não acredita na solução apresentada e afirma que o património fica a perder. "Continuamos a promover a expansão urbana desordenada e depois queremos chegar em 15 minutos aos sítios. Esta é mais uma intrusão abusiva na cidade, o que é facto é que vamos perder património".
Ideias que marcaram a conferência"Margens que se ligam". A nova ponte sobre o rio Douro vai permitir concretizar a segunda linha de metro entre as cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia. A obra deve estar concluída no final de 2025.