Os efeitos negativos da pandemia no controlo da hipertensão arterial
A pandemia da Covid-19 tem efeitos negativos na luta contra outras doenças. Os níveis de controlo da hipertensão em Portugal pelos doentes, mas não só, pela população em geral, sofrem - e vão continuar a sofrer -, uma descida difícil de contrariar.
Corpo do artigo
Há menos gente a consultar o médico, menos gente a fazer testes. O combate à hipertensão é uma longa guerra - explica o professor Luís Martins investigador e médico especialista em cardiologia. Por isso, o combate dos últimos meses, em tempos de pandemia, representa um revés, capaz de gerar um impacto negativo, um passo atrás na luta contra a doença.
"Em 2007/2008 conseguimos uma lei contra o sal, mas, neste momento, defrontamo-nos com um problema. É claro que o Covid tem interferência: o acesso dos doentes aos cuidados de saúde é baixíssimo neste momento, quer porque os cuidados de saúde se fecharam à maior parte dos atendimentos presenciais, quer porque as pessoas têm medo de ir ao local. Isto vai originar descontrolo da pressão arterial", explica o professor Luís Martins.
TSF\audio\2020\09\noticias\09\09_setembro_2020_pela_sua_saude_cardiovascular_tiago_santos
Os efeitos já são percetíveis, mas será a médio e longo prazo que o impacto da pandemia se irá fazer sentir. "O principal assassino silencioso da espécie humana é o acidente vascular cerebral. Esta ainda é a principal causa de morte em todo o mundo, não foi ultrapassada pela Sars-Cov-2, não é nem vai ser, pelo menos por enquanto", lembra o especialista.
"Portugal evoluiu muito bem nestes últimos dez anos. Passamos de taxas de controlo da zona dos 12% - dos hipertensos que fazem medicação, percentagem de doentes controlados - para, em 2012-15 ter taxa de controlo de 42-43%, e até, em 2017, a taxa de controlo rondava os 50%. Uma melhoria fantástica. Isto implicou uma redução enorme do acidente vascular cerebral, mas este ainda é a principal causa de morte em Portugal", aponta.
Quando surgem sintomas, explica o professor Luís Martins, estes sintomas significam já uma alteração nos órgãos, e, por isso, um efeito da doença. É necessário prevenir antes dos sintomas surgirem, controlar a tensão em mudar hábitos. Do consumo de sal ao exercício físico, mesmo em tempos de crise económica e pandemia.
Informação e adesão à terapêutica
É necessário aumentar grau de informação da população sobre a hipertensão, agora, mais do que nunca. Mudar hábitos, reduzir o sal, e cumprir à risca a medicação quando prescrita, a chamada adesão à terapêutica.
"Eu tomei os comprimidos tal e qual me foram prescritos". Esta é a regra de ouro, explica Luís Martins. "Não porque hoje estou bem ou porque estou mal e faço disso depender a toma ou não dos medicamentos".
Mas também toma de medicamentos, o acesso aos medicamentos, é prejudicada pelo momento de crise económica e de saúde. "A pandemia veio dificultar o acesso das pessoas com doença crónica, piorar a capacidade financeira, - já estamos a verificar que o grau de controlo já está a regredir, e tudo isto não vai ter consequências hoje, vai ter consequências daqui a quatro anos, como aconteceu no período da crise económica de 2008".