"Passei a ter mais qualidade de vida": Rosa vive com um aparelho implantado no coração
Descobrir que se sofre de insuficiência cardíaca pode mudar uma vida, mas não significa deixar de vivê-la. A iniciativa "Coração de Portugal" dá a conhecer histórias de esperança contadas por doentes e de quem procura, com projetos e iniciativas, melhorar a vida de quem luta contra a doença.
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Rosa Garcia tem 71 anos e sempre teve um estilo de vida saudável, até que há quase uma decáda despertou para o problema da insuficiência cardíaca.
"Tinha 62 anos e fazia uma vida completamente normal, mas tive uma gripe com muita tosse, fiquei com um cansaço muito grande e tive uma dor fortíssima nas costas", conta a antiga psicóloga e psicoterapeuta.
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Para despistar a dor, Rosa decidiu ir ao médico e o resultado do eletrocardiograma não deixou margem para dúvidas: "Tinha um bloqueio total do ramo esquerdo do coração e o médico disse-me que eu tinha de ser vista urgentemente por um cardiologista. O diagnóstico foi uma insuficiência cardíaca com evolução de dois meses e origem vírica".
Assim que recebeu o diagnóstico, Rosa marcou uma consulta de cardiologista, mas nessa mesma noite acabou internada, com falta de ar, na Urgência do Hospital de Santo António, no Porto.
"Durante a noite senti-me muito mal, estava sozinha em casa, chamei o 112 e levaram-me para o Hospital de Santo António. Fiquei imediatamente internada e a falta de ar que eu tinha era líquido nos pulmões. Estive 48 horas na Urgência, fui vista pela cardiologista que confirmou o bloqueio total do ramo esquerdo, depois estive 13 dias internada para conseguirem controlar a questão dos diuréticos, com indicações para não fazer esforços, mas eu estava habituada a ter uma vida frenética", explica a antiga terapeuta.
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Depois de ter alta, começou a ser seguida por um cardiologista, viu-se obrigada a abrandar o ritmo de vida e admite que não foi fácil aceitar: "Eu estava tão longe de estar doente e incapacitada, tive um ano que foi muito dramático, tudo me fazia confusão, demorava tempo a perceber as coisas, não estava capaz de seguir os pacientes que tinha e comecei a perceber que estava muito limitada".
Além do cansaço mental, as limitações fisícas eram evidentes nas simples rotinas do dia-a-dia. "Eu estava com uma insuficiência cardíaca gravíssima, cansava-me muito, a porta da rua do meu prédio era pesada e eu não tinha força para abrir, de repente pensei que tinha perdido as minhas capacidades todas", confessa.
Durante um ano Rosa foi acompanhada em consultas, para perceber a evolução da função cardíaca, até que o cardiologista decidiu avançar para a implantação de um ressincronizador cardíaco: "O lado esquerdo do coração não estava a funcionar e era preciso sintonizar a parte direita e a parte esquerda".
Rosa garante que avançou sem medos para a implantação e explica que o acesso ao coração foi feito através de um pequeno corte junto ao ombro, com anestesia local: "Eu tenho 3 elétrodos, um que recebe, outro do lado direito e outro do lado esquerdo, que têm de funcionar precisamente no mesmo instante e por isso é um ressincronizador cardíaco".
Na prática, o aparelho coordena a atividade elétrica do coração, melhora a capacidade mecânica e permite que o sangue seja bombeado de forma mais eficaz.
A recuperação foi rápida e hoje em dia o aparelho implantado permite que a função cardíaca seja controlada à distância, prova disso é que Rosa vive em Lisboa e é acompanhada por um cardiologista no Porto.
A antiga psicóloga explica que o módulo externo do aparelho está ligado à ficha telefónica, tem uma antena e no interior há uma espécie de rato, como o de um computador. "Ponho o rato em cima do aparelho que está no meu peito, carrego no botão e o aparelho envia os dados para o hospital. Se eu estiver 5 dias longe do aparelho, quando volto basta estar meia hora no sítio onde ele está para que o aparelho leia e envie os dados para o hospital", explica.
Passados 9 anos, Rosa considera que o ressincronizador cardíaco veio devolver-lhe a liberdade perdida e, acima de tudo, proporcionar-lhe mais qualidade de vida: "Recuperei toda a minha atividade, atravessei uma fase ainda mais frenética, porque a minha mãe com 94 anos ficou completamente a meu cargo, e ainda voltei a dar consultas. Passei a ter uma qualidade de vida superior à que tinha antes de pôr o aparelho".
Em caso de realizar exames ou cirurgias, Rosa tem apenas de avisar o médico que tem um ressincronizador cardíaco, para prevenir interferências e preparar o aparelho, de resto não há qualquer limitação no dia-a-dia.
"Desde que começou a questão da Covid 19 fiquei sem empregada e sou eu que faço tudo em casa, aspiro, passo a ferro, subo e desço escadas, ando e não me canso, faço tudo e mais alguma coisa. Houve uma altura em que uma amiga minha me disse que também queria um aparelho destes", conta entre gargalhadas.
Coração de Portugal é uma iniciativa do DN, JN e TSF com o apoio da Novartis e Medtronic.