"Projeto europeu está em crise." A entrevista à eurodeputada Marisa Matias
Marisa Matias está na antena da TSF, antes do debate a cinco que a rádio promove no ISCTE.
Corpo do artigo
Marisa Matias começou por esclarecer a posição do partido que representa na solução governativa portuguesa, e garantiu que o Bloco "não está nesta situação governativa sem dificuldades". No entanto, a eurodeputada acredita que o seu partido tem provado estar ao lado do Governo em todas as situações, mesmo quando há divergência de posições.
Entre essas situações divergentes, coloca o caso do Banif e do Novo Banco, com decisões "com as quais não concordamos", já que se "enterrou dinheiro", mas nas quais "mantivemos cooperação". "O Bloco de Esquerda não deixa de estar disponível, não deixámos de estar disponíveis" para trabalhar com o Governo, frisou a candidata às europeias.
"O Bloco nunca falhou no acordo", rematou.
Mas há ainda questões nacionais com que o Bloco de Esquerda se continua a debater e pelas quais não vai desistir de lutar. Marisa Matias destaca a Lei de Bases da Saúde.
TSF\audio\2019\05\noticias\09\09_maio_2019_marisa_matias_europeias
Quanto ao Parlamento Europeu, a eurodeputada revelou-se preocupada com o estado do projeto europeu: "Estamos a viver uma crise". Essa crise é fundamentalmente baseada na questão mais crítica para a candidata: as alterações climáticas.
"O combate às alterações climáticas atravessa todos os domínios", refletiu, e aproveitou também para reforçar que "o Bloco de Esquerda foi considerado o campeão do clima no Parlamento Europeu". A questão ambiental e climática exige, segundo a eurodeputada, uma "reconversão da economia".
Marisa Matias exemplificou: "Os desequilíbrios macroeconómicos agravaram-se. A dependência externa que temos no que toca às energias está ligada ao combate das alterações climáticas". Assim, é claro para a representante bloquista na Comissão Europeia que Portugal se pode aproximar mais de uma independência nas energias e, subsequentemente, na economia.
Também nas metas do Acordo de Paris ainda estamos longe de concretizar objetivos, revelou Marisa Matias, que tem sido "a única eurodeputada portuguesa envolvida nas negociações", a par de Carlos Moedas. "É necessário encontrar um plano de investimentos públicos nas energias renováveis que nos permita falar de futuro".
A bloquista salientou que os jovens estão a demarcar-se da crise, ao saírem às ruas na defesa pelas causas ambientais. Há futuro ainda, na perspetiva de Marisa Matias, mas "temos de ter a garantia de recursos para investir".
Contudo, outras questões prementes se destacam no discurso da candidata às europeias. A crise de migrantes continua a ser uma preocupação real, materializada em "18 mil pessoas mortas no mar Mediterrâneo, o maior cemitério a céu aberto". Segundo Marisa Matias, não se deve esquecer que estas pessoas "fogem de conflitos ou são refugiados ambientais ou pessoas que sofrem injustiças sociais".
"Ainda não vi nenhuma cedência [quanto aos direitos humanos]", asseverou Marisa Matias, sobre as posições do Parlamento Europeu.
Nestas eleições, a eurodeputada diz estar a competir para "reforçar a nossa posição" na Comissão Europeia, e assegurou que o Bloco não corre contra o PCP ou o PEV: "O nosso campeonato não é a CDU".
Quanto ao apelo ao voto, há apenas um aspeto que Marisa Matias quer deixar claro: "Se as pessoas tivessem consciência do trabalho que foi feito - a forma como nos batemos naquilo que é essencial, como enfrentámos a Comissão Europeia na questão do salário mínimo e dos objetivos orçamentais..."
"Gostava que essa avaliação fosse feita", apelou a eurodeputada, que não aponta, no entanto, números como meta: "Porque respeito mesmo muito aquela que é a posição dos portugueses".
Marisa Matias, 43 anos, natural de Coimbra, cabeça de lista do Bloco de Esquerda pela segunda vez consecutiva, é eurodeputada há quase 10 anos. Foi candidata à presidência da República e obteve mais de 10% dos votos, a maior votação jamais obtida por uma mulher em eleições presidenciais realizadas em Portugal.
A TSF continua a entrevistar esta semana os cabeças-de-lista dos cinco maiores partidos portugueses. Depois de Nuno Melo, João Ferreira e Pedro Marques, Marisa Matias será entrevistada depois das 10h por Ricardo Alexandre (entrevista integral para ver e ouvir em tsf.pt). Esta sexta-feira será a vez de Paulo Rangel.
A Hora da Europa na TSF tem o apoio do Parlamento Europeu.