Paulo Rangel desvaloriza as sondagens, mas considera que tem "condições" para ser o vencedor das eleições europeias 2019.
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Em entrevista à TSF, o cabeça de lista do PSD fala da sua experiência nos últimos 10 anos em Bruxelas e dos diferentes aspetos de uma vida itinerante de um político que "faz questão de manter uma ligação ao país" e que, por essa razão, regressa "todas as semanas".
"Todas as semanas ou quase todas vou a Lisboa", revela o deputado, confessando também que é da capital que sente "alguma falta", pois quando regressa "é sempre numa correria grande", sem poder aproveitar "o glamour extraordinário" que a cidade "tem hoje". Rangel nota um "salto" idêntico na cidade do Porto, onde passa mais tempo, incluindo com "atividade relacionada com o Parlamento [Europeu]".
"Sempre com muitas conferências em escolas, universidades, associações", relata o deputado relativamente aos seus dias no Porto, que chegam a traduzir-se "numa média de uma conferência ou talvez duas por semana".
Mais cinco anos
Rangel garante que ainda não acusa sinais de cansaço da vida de "um torna viagem", em que se traduz o dia-a-dia do eurodeputado ao longo da última década, e está até com "lanço", "determinação" e "fôlego" para um novo mandato de mais cinco anos, no Parlamento Europeu.
Para já, diz-se preparado para percorrer o país em campanha eleitoral, para a qual parte "com extrema convicção e com um extremo fôlego", embora "um pouco surpreendido com o tom demasiado agressivo [e] com o nervosismo" que marcou a pré-campanha, "essencialmente, [da parte] do PS, que até está com uma campanha de ataques pessoais, muito focada no cabeça de lista", o que considera "uma coisa um pouco estranha".
Questionado sobre se a estratégia do PSD não tem igualmente sido centrada no ataque ao cabeça de lista do PS, Rangel garante que "a diferença é que nunca se fez nenhum ataque pessoal".
"Tenho o maior respeito quanto à pessoa de Pedro Marques. A questão é a posição que ele teve quanto aos fundos europeus, ou a posição que ele teve quanto ao fundo de solidariedade, ou o papel que ele teve na questão do investimento público. Estamos a falar de políticas e de atitudes", afirma.
Ranking
Na entrevista, Rangel concretiza que os "ataques pessoais" a que se refere estão ligados às insinuações de que ele "é uma pessoa que não trabalha". Ao passo que "qualquer pessoa que esteja em Bruxelas sabe que eu sou um deputado extremamente ativo", garante, apontando para o trabalho "essencialmente político" que realiza no Parlamento Europeu e na vice-presidência do PPE.
"A minha função é uma função essencialmente política, não é legislativa. E, portanto, não estou na questão dos relatórios legislativos". A minha tarefa é coordenar o grupo parlamentar. Mas [também] coordenei a preparação de propostas políticas do "think tank" [European Ideas Network]. Só isso foram mais de 68 seminários ao longo de cinco anos, que eu organizei todos", afirma, rejeitando a ideia de ser pouco interventivo e dá exemplos.
"Estou a pensar no relatório de "O futuro da Europa", do PPE, que depois foi fundamental para os relatórios que foram aprovados aqui e que demorou dois anos a preparar, que teve dezenas e dezenas de reuniões; estou a pensar nas reuniões do PSD, em que temos de articular os sentidos de voto; estou a pensar no "pressing" que foi necessário para a questão dos fundos europeus, por exemplo, o fundo de solidariedade para os incêndios...", aponta.
"Foi importante, por exemplo, tentar harmonizar posições quanto ao Brexit, em que nós temos uma posição bastante mais flexível do que outros países. Como foi preciso, na questão das listas transnacionais, organizar o grupo dos países médios (...) e que fui sempre eu que liderei esse processo", relata o deputado.
Entre o "muito trabalho feito", Paulo Rangel destaca também o que "fez pela Venezuela". "Fui eu e a deputada Cláudia Monteiro de Aguiar, também do PSD, que estivemos aqui - também com os espanhóis -, mas sempre em coordenação, a trabalhar".
Mais deputados?
As sondagens têm vindo a aproximar os potenciais resultados do PS e do PSD, apontando para o aumento do número de deputados da equipa de Paulo Rangel quando comparado com o atual número de social-democratas no Parlamento Europeu. Rangel desvaloriza.
"As sondagens são como os "rankings", [e] eu não sou um grande fã nem de uma coisa, nem de outra. Apesar de dizerem que eu estou muito mal, no "ranking" aqui do Parlamento Europeu até estou bastante bem - e melhor do que todos os deputados socialistas -, mas eu estive sempre habituado a não ter sondagens boas", afirma, reconhecendo, porém, que estas têm "um lado positivo, que é [o de] dar algum ânimo às pessoas".
"Mas, sinceramente, relativizo mesmo. (...) No caso das eleições europeias, uma vez ganhámos as eleições e nenhuma sondagem nos dava a vitória. Da segunda vez, davam-nos uma diferença enorme para o Partido Socialista [e] perdemos, mas por uma diferença que até foi considerada "poucochinho" - na altura foi a expressão utilizada por António Costa".
Condições para vencer
Paulo Rangel diz discordar "completamente" do primeiro-ministro quando este afirma que o resultado das Europeias, normalmente, "penaliza o partido que está no Governo". Particularmente, por considerar que António Costa "quer fazer das eleições europeias uma espécie de plebiscito ou de referendo ao seu Governo".
"As eleições europeias têm uma dimensão que não é puramente nacional. Também tem uma dimensão nacional. E, naturalmente que, havendo um grande descontentamento, como eu acho que hoje há, com o governo, que isso também se reflita nas eleições europeias", afirma, considerando que há "todas as condições" para o PSD vencer.
"Por um lado, a qualidade da lista do PSD, a qualidade dos projetos e das propostas que nós já apresentámos e que apresentaremos proximamente de uma forma ainda mais sistematizada e, por outro lado, alguma oposição, quer em matéria de política europeia do Governo, quer em matéria de política nacional do Governo, com certeza que eu acho que esse descontentamento também se vai manifestar", considerou.
"É difícil, mas o PSD tem todas as condições, por causa de ter uma boa lista, deter as melhores propostas e de haver muitas críticas e censuras a fazer ao Governo, tem muitas hipóteses de ganhar estas eleições europeias", acredita Paulo Rangel, considerando que uma das razões é "não só" ter uma equipa que considera "forte", mas também "a melhor equipa de todas as listas".
O que pensa sobre a equipa
Lídia Pereira - número dois da sua lista - é apenas uma promessa ou é mais do que isso?
Ela é, com certeza, uma promessa, mas é já uma realidade. É uma pessoa que, tendo apenas 27 anos, tem um percurso profissional muito consistente na área da economia. É uma licenciada em Portugal, depois teve oportunidade de estar no colégio da Europa, fez um estágio no Banco Europeu de Investimento. Conhece muito bem os temas europeus, designadamente os temas económicos.
É nisso que ela pode ser uma mais-valia para a delegação do PSD?
Vai ser uma grande mais-valia, em primeiro lugar, representando a juventude portuguesa. É uma mulher de 27 anos que é presidente da maior organização política de juventude da Europa. Acho que, só por si, isso já é um currículo assinalável. Mas, depois, para além disso, acho que ela, porque tem um conhecimento grande das matérias económicas, pode ser a nossa ponta de lança na área da reforma da zona euro, que eu considero essencial para o futuro da economia portuguesa.
José Manuel Fernandes vai continuar a ser o homem dos orçamentos?
Sim. Será com certeza o mister budget. Ele já é, em todo o Parlamento, conhecido como tal. Isso será um elemento de força para nós, porque ele tem um imenso prestígio interno. É uma coisa que caracteriza o grupo do PSD, que é ter uma influência superior dentro do PPE e dentro do Parlamento. Votar no PSD é reforçar a influência de Portugal.
Graça Carvalho esteve consigo no Parlamento Europeu, na sétima legislatura. Foi membro da Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia. Que papeis pode desempenhar?
Na indústria e na energia, ela entra sem qualquer cota. É muito prestigiada, aqui em Bruxelas, na área da inovação, da ciência, das novas tecnologias e da investigação. Mas também tem uma agenda muito forte para a energia e para as alterações climáticas. No ambiente, ela terá também um papel muito importante.
Álvaro Amaro...
É alguém que conhece muito bem a Europa por causa do Comité das Regiões. Vai representar algo que o PSD faz sempre questão de representar, que são o interior e os territórios de baixa densidade. (...) E, por ter uma grande experiência e conhecimento dos dossiês agrícolas, vai ser também o nosso rosto para a agricultura.
Cláudia Monteiro de Aguiar...
Foi a primeira pessoa que pôs o turismo como tema europeu. Tem feito um trabalho extraordinário na economia do mar. E representa também a região ultraperiférica. Esse é um trabalho que é quase conatural à sua proveniência da Madeira.
Carlos Coelho foi eleito pela primeira vez em 1999. Já tinha tido uma experiência em 1994 como eurodeputado, antes de integrar um Governo. Acredita que ainda pode contar com Carlos Coelho como eurodeputado?
O nosso objetivo é ganhar as eleições e é, com certeza, subir número de deputados.
Quantas cadeiras vai pedir para lhe colocarem na sala da primeira reunião?
Não vou entrar nessa especulação. O objetivo de um partido como o PSD é sempre ganhar. Mas deixe-me dizer que eleger o Carlos Coelho é uma coisa muito importante, porque se o José Manuel Fernandes é o mister budget, Carlos Coelho é o mister Schengen. É a pessoa que tem a ver com a liberdade de circulação e, hoje em dia, está também muito ligado à proteção do consumidor e à proteção do mercado interno.
A partir daqui, destacaria outros nomes?
Começo por destacar a Ana Miguel Santos. É uma especialista na área da segurança e da defesa. O tema em que a Europa mais avançará nos próximos cinco anos, será a segurança e a defesa - contra o terrorismo, [ou] contra as ameaças de cibercrime. Ela está a acabar o doutoramento em Cambridge nesta área. É uma pessoa com um grande conhecimento nesses dossiês. É mais uma jovem que pode vir dar um grande apoio naquela que pode ser uma área crucial, nos próximos três, quatro ou cinco anos.