Debate das europeias promovido pela TSF fica marcado pelo tema da saída do Reino Unido da União Europeia. Há quem queira que os britânicos fiquem, mas a vontade do povo é soberana, lembram outros.
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"Pode dar-se o caso de o Reino Unido não sair da UE porque a UE acaba antes de o Brexit se concretizar". É com esta piada que diz ter ouvido na rádio que António Marinho e Pinto dá o pontapé de saída neste que é um dos maiores temas a marcar a agenda europeia. Da esquerda à direita, as posições divergem.
Marinho e Pinto, eurodeputado que é novamente candidato pelo Partido Democrático Republicano, sublinha que "ninguém estava preparado para isto, nem o Reino Unido nem a União Europeia" e insta a encontrar uma solução o mais rapidamente possível e que pode passar por uma ligação como aquela que a Noruega tem com o bloco europeu.
Exclamando que "a União Europeia foi a melhor coisa que a humanidade fez até hoje", Marinho e Pinto defende que é preciso que os políticos estejam nas ruas a explicar a Europa às pessoas.
Já pela CDU, o eurodeputado João Pimenta Lopes lembra que é sobretudo positivo "respeitar a vontade do povo britânico". "Nós temos observado a forma como tem sido conduzido um processo negocial carregado de chantagens e de ameaças que procuram condicionar o processo negocial", diz. "Tem havido um grande esforço para duas coisas: afirmar esta ideia de que não há alternativa à UE e que tudo se fará para se promover um caminho que no fim leve a que aquilo que foi expresso democraticamente não se venha a consumar", sublinha. Pimenta Lopes diz que há outros exemplos na União em que se repetem as votações até que saia o resultado esperado.
O eurodeputado comunista vai mais longe e contesta que a União Europeia seja um projeto de afirmação social e de afirmação de paz, sublinhando que no bloco houve luta dos povos e dos trabalhadores pela conquista de direitos e que não dependeram das políticas europeias. "A União Europeia não é um projeto de construção da paz, é disso exemplo o ataque e bombardeamento da Jugoslávia por parte da NATO com a participação de países da União Europeia, mas podíamos falar também do cariz agressivo da UE de intervenção e ingerência sob países soberanos, inclusivamente pela via militar". Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria, são os exemplos dados pelo também candidato da CDU.
Numa altura em que chegam cada vez mais telefonemas ao centro de informação da Europa a pedir esclarecimentos sobre o Brexit, é necessário recuar no tempo da análise, diz Marisa Matias. A eurodeputada e cabeça-de-lista pelo Bloco de Esquerda nota que o impasse do Brexit tem de ser ultrapassado e que as reuniões entre Conservadores e Trabalhistas "já chegaram tarde".
Aqui, Marisa Matias também aponta o dedo à Europa. "Chegámos a uma situação como esta do Brexit com muita conivência por parte das instituições da União Europeia que alimentaram os devaneios do senhor Cameron", aponta a eurodeputada. "Fez-se o referendo, as pessoas decidiram maioritariamente sair, então há que respeitar", diz Matias. "Alimentou-se a disputa de poder do senhor Cameron, agora anda-se a alimentar as hesitações e a disputa do poder da senhora May", sublinha. "Está aqui em causa a vida das pessoas, uma saída sem acordo não pode ser benéfica de maneira nenhuma", nota.
Sobre um possível alargamento do prazo, Marisa Matias é favorável. "Até 30 de junho é um prazo realista? Não é! Só se for mesmo para continuar a fazer render isto do ponto de vista da disputa de poder", diz Marisa Matias. "Se é para estender o prazo, volta-se à mesa de negociações e reabre-se para os dois lados mas para garantir o direito das pessoas", aponta. "Esta é uma trapalhada que tem a impressão digital de imensas famílias políticas e de muitas instituições, por isso vamos tentar sair daqui com o mínimo de dignidade", conclui Marisa Matias realçando que é necessário cumprir a vontade do povo britânico.
Já o centrista Nuno Melo, considerando que o ciclo político de Theresa May chegou ao fim, acredita ser possível uma espécie de volte-face. "Numa futura eleição para o parlamento britânico, essa eleição poderá estar indexada a uma nova consulta ao povo sobre a permanência do país na União Europeia", diz. "Houve uma alteração de circunstâncias que justificará que o povo se pronuncie outra vez", aponta Nuno Melo manifestando o desejo de que o Reino Unido deveria ficar na União.
Para José Manuel Fernandes, o Brexit é uma "situação em que ninguém ganha". "O Reino Unido até perde mais, mas ninguém lucra com isto", diz o eurodeputado do PSD. José Manuel Fernandes sublinha que não foi explicado à população o significado do Brexit: "Isto resulta de uma irresponsabilidade e de não se ter falado verdade à população. Não se disse as consequências do Brexit e é difícil num referendo a uma pergunta complicada, responder sim ou não".
Virando agulhas para Portugal, o social-democrata dá outro exemplo: "É como aqueles que defendem a saída do euro por parte de Portugal - até com um referendo - como o Partido Comunista Português o faz, não explicando às pessoas que isso significava um novo programa de ajustamento, um empobrecimento brutal e depois vocês fazem uma coisa ridícula todos os anos em todos os orçamentos que é pedir uma linha orçamental para financiar os países que queiram sair do euro".
Já Margarida Marques, antiga secretária de Estado para os assuntos europeus e que entra na corrida ao Parlamento Europeu pelo Partido Socialista, nota a importância do voto jovem. Com alunos universitários na plateia da Universidade do Minho, a socialista diz que "os jovens britânicos estão arrependidos de não terem votado no referendo" e insta estes alunos a que vão às urnas. "Não deixem ninguém decidir por vós", apela. "O Reino Unido foi um país que esteve sempre na União Europeia com um pé dentro e outro fora e o que o Reino Unido quer hoje é estar fora com um pé dentro", diz Margarida Marques. A candidata socialista lembra que interessa ao Reino Unido ter um acordo de cooperação em áreas determinantes como a defesa, o combate ao terrorismo, a inovação e a educação.
A Hora da Europa - Parte I
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A Hora da Europa - Parte II
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