"O doente pode e deve ajudar o médico" - Eugénia Raimundo, psicóloga.
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A resposta às doenças cardiovasculares é uma missão multidisciplinar envolvendo vários profissionais de saúde. A psicologia cada vez mais assume papel determinante na ansiedade e nos receios dos doentes, sobretudo na condição de crónicos.
"O papel dos psicólogos na saúde cardiovascular é gerir não só o estado emocional do doente, mas também a gestão das angústias e dos fatores que possam estar a bloquear o processo de tratamento", elucida Eugénia Raimundo. "Muitas vezes, este acompanhamento da psicologia também é crítico, não só em relação ao doente, mas também em relação aos seus cuidadores. A emergência destas doenças traduz-se em situações de muita dependência, e deve-se compreender toda a situação clínica e o que pode ter impacto no tratamento".
Para a afirmação ser melhor compreendida, a especialista define o alvo prioritário ainda que outros, como vamos ler mais à frente, sejam tocados por estas declarações. "O doente crónico de risco cardiovascular tem de ser ativo", começa por explicar. Se na generalidade outros doentes costumam ser passivos executando apenas os conselhos do médico, não havendo dinâmica nem comunicação bilateral, nestes casos a psicóloga recomenda uma atitude diferente para reforçar o papel da intervenção clínica e ajudar a ganhar maior qualidade de vida.
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Não há maneira de eliminar os riscos cardiovasculares nos doentes crónicos, mas é possível controlar os fatores que os potenciam. Antes de mais, o princípio é aceitar a doença e compreende-la. Conhecer os efeitos secundários da medicação, por exemplo, é um marco importante para a gestão de expectativas, assim como saber o que fazer se falhar ou esquecer algum medicamento. Eugénia Raimundo defende que o doente deve assumir o compromisso de manter uma relação de parceria e frontalidade com o médico para melhor expor dúvidas ou situações. "Muitas vezes o doente sente-se inibido para falar de determinadas questões, no caso de falhar algum medicamento, é como se estivesse a admitir ao médico que não está a cumprir o tratamento e, por isso, tem algum receio de abordar o assunto. Mas quando o doente coloca essa questão, está a assumir que pode haver um momento de esquecimento ou alguma situação que possa inviabilizar a toma adequada da medicação". É essencial o doente assumir esse papel ativo para o processo terapêutico funcionar. A psicóloga defende que até os profissionais de saúde e sobretudo médico deverá ser mais atuante em todos os aspetos. "É crucial que o doente crónico seja valorizado pelo que sabe da própria doença, porque mais do que falarmos de um doente, estamos a falar de pessoas com toda uma carga psicológica associada. É preciso conhecer-lhe as motivações e se toma regularmente a medicação para melhor o consciencializar dos fatores de risco. Esta componente vai ser crucial para gerir a adesão à terapêutica que é para toda a vida".
As consultas e a limitação de tempo são outra determinante importante para o bom funcionamento do processo, avisa Eugénia Raimundo. Cabe ao médico gerir esses momentos, mas também aqui é pedida a atenção do doente para maior eficácia dessa proximidade com o profissional de saúde. "O doente pode e deve ajudar o médico preparando previamente a consulta. Deve saber transmitir as dúvidas que tem, assim como deve saber indicar os registos, por exemplo, da pressão arterial".
"Pela Sua Saúde Cardiovascular" é uma iniciativa TSF com o apoio da Servier Portugal.