Descobrir que se sofre de insuficiência cardíaca pode mudar uma vida, mas não significa deixar de vivê-la. A iniciativa "Coração de Portugal" dá a conhecer histórias de esperança contadas por doentes e de quem procura, com projetos e iniciativas, melhorar a vida de quem luta contra a doença.
Corpo do artigo
Ramiro Domingues tem 63 anos, sofre de insuficiência cardíaca e sentiu os primeiros sinais de alerta em dezembro do ano passado: "Comecei com dor nas costas junto às omoplatas e pensei que fosse uma dor muscular, por cansaço de conduzir, ou que fosse do tempo, porque era inverno, e foi andando até que comecei a sentir pouca força", recorda.
TSF\audio\2020\11\noticias\13\13_novembro_2020_coracao_de_portugal
Com os sintomas a agravarem-se decidiu ir a uma urgência hospitalar em Lisboa. "A médica fez a medição do nível de saturação de oxigénio e ficou assustada porque estava muito baixo, auscultou-me e disse que eu tinha um edema pulmonar, o tórax cheio de líquido, e poderia ser insuficiência cardíaca", conta Ramiro, que acabou por ficar internado e fez uma ressonância magnética.
Depois desse exame, o "médico disse-me que eu tinha uma artéria mais estreita do que o normal, com um caudal de circulação de sangue bastante baixo, que iria fazer um cateterismo e se não resolvesse tínhamos de ir para um Bypass", conta.
Neste caso, a artéria que estava obstruída acabou por ser alargada com um stent, um pequeno tubo expansível usado para restaurar o fluxo sanguíneo.
A intervenção correu bem e desde então Ramiro tem sido acompanhado de forma mais regular por um cardiologista e um especialista em medicina interna.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2020/11/coracao_de_portugal_ramiro_domingues_20201112224016/hls/video.m3u8
"Tenho sido acompanhado com exames, já fiz dois ecocardiogramas para verificar se fiquei com alguma sequela e felizmente não. Sinto-me bem, respiro perfeitamente, os índices de saturação de oxigénio estão entre os 96% e os 98% e entretanto tenho estado a acompanhar a tensão arterial porque tem estado bastante baixa. Tenho tomado um comprimido que devo, em princípio, deixar de tomar. Tenho também feito análises aos níveis de colesterol e está tudo normal", explica Ramiro.
Nos último oito meses, o empresário de 63 anos tem sido seguido no Hospital dos Covões em Coimbra por David Sousa, especialista em Medicina Interna, que conhece bem os fatores de risco associados à família Domingues. Além de acompanhar o filho, o clínico acompanha o pai de Ramiro, que também sofre de insuficiência cardíaca.
Aquilo que podemos fazer de melhor para prevenir as doenças cardíacas resume-se a ter um estilo de vida saudável
"Ambos tinha o colesterol alto, ambos tinham a tensão alta e tinham uma vida de muito stress no trabalho. Acresce que o filho tinha diabetes, por isso nele avançou tudo muito mais rápido do que no pai. O problema foi não ligarem aos sinais de alarme que os corpos lhes iam dando. O filho em 2012 tinha tido o diagnóstico de diabetes, mas na altura não era nada grave ou que o incomodasse e esteve quase 8 anos sem qualquer tipo de tratamento. Ora, nós sabemos que há fatores de risco muito importantes para este tipo de doença coronária, um deles é a diabetes", explica o médico.
Na prática, a diabetes foi um atalho para a progressão da insuficiência cardíaca. David Sousa sublinha que "na altura não foi bem percecionada a situação de risco em que ele estava e não foi iniciado um tratamento e uma mudança de estilo de vida que poderiam, a longo prazo, evitar outras complicações. A diabetes acelera muito o processo de aterosclerose, com a deposição de gordura na parede dos vasos, e aqui neste caso passava apenas um fiozinho de sangue naquelas coronárias".
Olhando para o historial familiar, o clínico nota que o enfarte que o pai sofreu em 2004 podia ter sido um alerta para o filho. "Sabemos que há influências familiares, se há uma pessoa na família que já teve um enfarte os outros elementos têm um risco mais alto do que a população em geral de ter um enfarte, principalmente se for em idade jovem, que no caso dos homens é antes dos 50 anos", esclarece o médico.
David Sousa sublinha que, como em todas as doenças, também na insuficiência cardíaca é preciso estar atento aos sinais do corpo e procurar ajuda: "Só quando não puderam mais é que foram obrigados a procurar ajuda, porque são os dois empresários, muito autónomos, construíram a vida toda sempre muito sozinhos e à custa do trabalho e achavam quase uma fraqueza pedir ajuda, achavam que tinham que dar a volta à coisa".
Ramiro admite que podia e devia ter parado mais cedo, mas admite que é hoje uma pessoa mais consciente. "Eu não sei se foram os medicamentos ou se foi o cérebro que deu uma volta, mas o chip foi reprogramado e comecei a funcionar de outra maneira. Tornei-me mais calmo, fui obrigado a parar, a andar o mesmo mas mais devagar, a encarar as coisas com mais tranquilidade, a fazer as refeições a horas e de preferência em casa e, portanto, a levar as coisas com mais calma", confessa.
Coração de Portugal é uma iniciativa do DN, JN e TSF com o apoio da Novartis e Medtronic