A DeepSeek deu o pontapé de saída no lançamento de novos modelos de inteligência artificial low-cost, com o R1, mas outras companhias chinesas seguem o exemplo e já provocaram as primeiras reações das principais gigantes norte-americanas
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A primeira a marcar esta autêntica “silly season” tecnológica foi a startup chinesa DeepSeek com o lançamento do novo modelo de Inteligência Artificial (IA). Chama-se R1 e pretende democratizar o acesso à IA com preços low-cost.
Só que o arranque do “Ano da Serpente”, como se designa 2025 no calendário lunar chinês, também é marcado pelo anúncio da AliBaba com o lançamento do Qwen 2.5-Max, uma versão melhorada do seu modelo de IA, que permite cortes até 9% dos preços dos seus modelos. A gigante chinesa justifica só ser possível, porque o modelo supera outros existentes no mercado, incluindo o recém-lançado pela sua conterrânea.
Também após o anúncio do modelo R1 da DeepSeek, a ByteDance, propriedade do TikTok, a Baidu e a Tencent informaram que atualizaram preços e fizeram “refresh” aos seus principais modelos de IA, que, garantem, “são superiores ao modelo da OpenAI, dona do ChatGPT”.
Numa entrevista recente à imprensa chinesa, Liang Wenfeng, fundador da DeepSeek, garante que o objetivo da empresa não é competir no preço, mas democratizar o acesso geral à IA, com sistemas autónomos e capazes de superar os seres humanos na maioria das tarefas economicamente relevantes.
O líder desta empresa chinesa assegura que uma equipa jovem formada pelas universidades de elite da China está a trabalhar em laboratório com métodos de investigação ágeis e descentralizados para a próxima fase deste tipo de indústria.
A evolução frenética do mercado espelha a tensão geopolítica entre os EUA e a China, depois do rombo em bolsa, durante dois dias consecutivos, dos títulos das principais gigantes tecnológicas, cotadas no principal índice Tech da bolsa norte-americana, o Nasdaq. O tema domina agora as conversas em Silicon Valley, berço tecnológico norte-americano.
De acordo com a “Team Blind”, plataforma de partilha de informação para os profissionais do setor, os engenheiros da Meta estarão a tentar dissecar o modelo chinês R1 e a retirar toda a informação possível, com preocupações acrescidas, uma vez que o desempenho do Deepseek V3 já antes tinha superado o Flama 4, modelo de linguagem mais avançado da Meta.
A gigante norte-americana fala mesmo de uma autêntica "sala de crise" para avaliar impacto da IA low-cost da startup chinesa DeepSeek.
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, terá convocado a direção da empresa para avaliar custos face à preocupação em justificar gastos massivos com infraestrutura de IA, frente ao novo rival que, para funcionar, custa menos 95%.
Também Sam Altman, CEO da OpenAI, dona do ChatGPT, na sua conta do X, elogia a chegada ao mercado do assistente de IA da concorrente chinesa, considerando que é revigorante a chegada de concorrência à altura da sua aplicação e promete para breve futuros avanços e lançamentos.
"O DeepSeek R1 é um modelo particularmente impressionante, sobretudo pelo que são capazes de entregar pelo preço, mas obviamente, nós iremos entregar modelos muito melhores e vamos lançar algumas novidades”, lê-se na publicação.
Altman sublinha que a OpenAI deve continuar a seguir o seu roadmap de investigação, o que significa investir e construir tecnologia com base em alto poder computacional. "Acreditamos que ter mais poder de computação é mais importante do que nunca para ter sucesso na nossa missão."
O líder da OpenAI diz-se ainda empolgado para entregar a AGI (forma geral de AI), que, em teoria, conseguirá ultrapassar seres humanos em atividades cognitivas complexas.
Em junho do ano passado, a Microsoft concordou que a OpenAI fechasse acordo com a Oracle para desenvolver capacidade extra e, já este ano, a companhia liderada por Satya Nadella deixou de ter exclusividade no data center da dona do ChatGPT.
A invenção da DeepSeek tem provocado diversas reações parte de figuras de referência no mundo tecnológico, como o guru Marc Andreessen.
O engenheiro de software, cofundador da Andreessen Horowitz ou da 16z, um dos principais fundos de venture capital dos Estados Unidos, que também se tornou referência do mundo tecnológico o livro “Mosaic”, designou a invenção da startup chinesa como o “Sputnik da IA” da era moderna.
De acordo com a agência Bloomberg, as consequências do lançamento do R1 estão a espalhar-se rapidamente e a indústria de tecnologia dos EUA está já a estudar a forma como a DeepSeek conseguiu tal feito e se o fez tão barato quanto afirma, existindo suspeitas de que a novata chinesa construiu o seu chatbot com base na tecnologia ocidental, evitando os enormes custos de desenvolvimento de grandes modelos de linguagem.
A DeepSeek já há muito tinha informado o mercado que envia os dados dos utilizadores para a China, cumprindo a política de privacidade da app, depois de confrontada com a acusação dos EUA de que as empresas chinesas de tecnologia representam uma ameaça à segurança nacional.
A startup também armazena dados quando a pessoa entra em contacto com a empresa e fornece, por exemplo, provas de identidade ou idade. Nesse caso, o utilizador pode apagar o histórico da conversa, mas os especialistas recomendam não compartilhar informações sensíveis, pois informações como e-mail, telefone, ou data de nascimento, também são armazenadas pela companhia, bem como, dados fornecidos na utilização de serviços que requerem pagamentos, que ficam automaticamente armazenados.
Se o utilizador criar uma conta, utilizando o Google ou a Apple, a DeepSeek irá receber informações dessas companhias.
Dado o cenário, é provável que a DeepSeek envie mais dados para a China do que o TikTok, já que a plataforma da ByteDance está “hospedada na nuvem” nos Estados Unidos.
