É dez vezes mais capaz do que o seu antecessor e mora agora no Campus de Azurém da Universidade do Minho. Promete "alto desempenho" e pode ser usado para resolver problemas como de "modelação numérica, modelação de tempo e de otimização logística".
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Podia ser o sonho de muitos fãs de videojogos, mas vai servir para ajudar a ciência em Portugal a chegar mais longe. O Deucalion foi inaugurado esta quarta-feira no Campus de Azurém, na Universidade do Minho, em Guimarães. A máquina, dez vezes mais rápida que a antecessora, começou por ser anunciada para o início de 2020, foi depois adiada para o início de 2022, e ainda para o início deste ano, até ser finalmente inaugurado. Mas o que é este supercomputador?
Arlindo Oliveira, professor no Instituto Superior Técnico (IST) e presidente do Instituto de Sistemas e Computadores, afirma que "é uma unidade que está integrada num esforço europeu para aumentar a competitividade da Europa na computação de alto desempenho. É um projeto que faz parte de um programa que já tem muito tempo. Não é um dos maiores computadores do mundo, não temos condições para isso, mas é um computador de alto desempenho e que pode ser usado para atacar diversos problemas, como problemas de modelação numérica, modelação de tempo, de otimização logística, etc".
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Este supercomputador deve entrar em funcionamento no próximo ano e estará ao dispor da comunidade científica. Arlindo Oliveira sublinha que os "físicos e os químicos, têm muita utilização destes computadores. Também pode ser usado pelo pessoal da inteligência artificial. É uma infraestrutura que é útil para a comunidade científica e felizmente que a conseguimos colocar a funcionar agora, depois de vários anos de atraso, em que não havia condições para o pôr a funcionar. Esta é a máquina mais recente. Não sei bem onde se situa em termos de ranking na Europa, provavelmente nos 30 ou nos 40 maiores, e talvez esteja nos primeiros mil a nível mundial. Não é uma máquina de referência mundial, mas é uma máquina importante para o país e para a comunidade científica".
Portugal já teve, no passado, outros supercomputadores, como o Bob, instalado em 2019, em Riba de Ave, mas que, em termos de capacidade, é dez vezes inferior ao Deucalion. Apesar de não ser um salto qualitativo em termos de referência, a instalação deste supercomputador permite que não fiquemos para trás relativamente a outros países.
"Este supercomputador permite que nos mantenhamos competitivos em domínios em que, se não tivéssemos acesso à computação avançada, corríamos o risco de ficar para trás. Permite que não nos atrasemos em relação aos outros países, como os Estados Unidos, o Japão, e mesmo na Europa, cujas comunidades científicas têm beneficiado destas infraestruturas. Mais que um salto qualitativo para a frente, permite que não demos um salto qualitativo para trás" sublinha Arlindo Oliveira.
Deucalion evita que Portugal se atrase na investigação científica
Ainda assim, o professor do IST não acredita que este supercomputador seja um fator decisivo para que os cientistas escolham o nosso país para desenvolver investigação. Arlindo Oliveira revela que este supercomputador "será seguramente um fator de competividade na atração de talento internacional embora, para dizer a verdade, o nosso maior desafio são os salários baixos. Isto ajuda, mas o que ajudava mesmo era haver um aumento generalizado do valor dos salários em Portugal, incluindo dos cientistas que vierem a ser convidados, porque uma das razões quer nos leva a ser menos competitivos é justamente pelos baixos salários".
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O Deucalion custou perto de 20 milhões de euros, e, segundo do responsável pela infraestrutura, João Nuno Ferreira, coordenador da Unidade de Computação Científica da Fundação para a Ciência e Tecnologia, deve ter custos operacionais, ao longo dos próximos cinco anos, de entre 13 e 15 milhões de euros.