"Espaço é um negócio." Satélites portugueses lançados e o caminho das estrelas não fica por aqui
O PoSAT-2, da LusoSpace, e o Prometheus-1, da Universidade do Minho, são o quarto e o quinto satélites portugueses a serem enviados para o espaço. O lançamento é feito às 18h48
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O foguetão Falcon 9 da companhia norte-americana SpaceX envia, esta terça-feira, para o espaço dois pequenos satélites portugueses, um da empresa LusoSpace, para monitorização do tráfego marítimo, e um da Universidade do Minho, com fins pedagógicos.
O lançamento será feito às 18h48 (hora de Lisboa) da base espacial de Vandenberg, na Califórnia, nos Estados Unidos.
O PoSAT-2, da LusoSpace, e o Prometheus-1, da Universidade do Minho, são o quarto e o quinto satélites portugueses a serem enviados para o espaço, depois dos nanossatélites ISTSat-1 e Aeros MH-1, em 2024, e do microssatélite PoSAT-1, em 1993.
“Um satélite que vai criar comunicações marítimas, ou seja, possibilitar que navios no meio do oceano, longe da costa, possam a enviar e receber mensagens para qualquer sítio do mundo." É assim que o CEO da Lusospace, Ivo Yves Vieira, começa por explicar o que é PoSAT-2, um dos dois satélites portugueses enviados, esta terça-feira, para o espaço.
O investigador sublinha que este aparelho representa uma inovação para o mundo “do ponto de vista que utiliza um novo protocolo de comunicação, que é muito mais barato do que as comunicações por satélite que existem hoje em dia”.
Para desenvolver o PoSAT-2, foram precisas dez pessoas, um investimento de aproximadamente 1,1 milhões de euros, numa colaboração entre a Lusospace e o Instituto Superior de Qualidade na Parte dos Testes. O processo que demorou cerca de um ano e meio.
Ivo Yves Vieira afirma à TSF que este é o primeiro satélite comercial português. “Já houve 3 satélites lançados até hoje, mas este é o primeiro que é comercial, ou seja, o primeiro que vai gerar receita”.
Isto significa que já nem o céu é o limite no que toca ao mundo do dinheiro. “O espaço é um negócio e as pessoas esquecem-se que o Elon Musk é o homem mais rico do mundo, sobretudo, graças à questão da SpaceX. Para Portugal, na área dos satélites, começa a ser um negócio também, o que é muito bom para a economia, para a valorização do capital humano e muito mais”, sublinha.
Contudo, o projeto não acaba aqui. A Lusospace pretende ir mais além. “Este satélite é um dos 12 satélites que nós estamos a lançar. Portanto, isto ainda é o primeiro passo de uma grande constelação que vamos lançar até início de 2026.”
Graças a esse sistema de comunicações marítimas que a constelação vai permitir, o investigador exemplifica que será possível “colocar informações de meteorológicas, de avistamentos de pesca ilegal ou de piratas, ou até de icebergs à deriva, ou baleias que são assustadas”.
Além do PoSAT-2, esta terça-feira, é também lançado o satélite Prometheus-1, da Universidade do Minho. São o quarto e o quinto satélites portugueses a serem enviados para o espaço. Quando questionado como se sente, Ivo Yves Vieira não esconde o orgulho. “Foi uma jornada muito longa. Às vezes pensava: 'Ok, vamos fazer satélites’, mas finalmente estamos a fazer satélites, e não é só ‘fazer satélites’ por si, mas fazer satélites para criar economia, para criar empregos, e para valorizar o nome de Portugal lá fora”, partilha.
O PoSAT-2 ficará posicionado a pouco mais de 500 quilómetros de altitude da Terra, acima da Estação Espacial Internacional, a "casa" e laboratório dos astronautas. Os primeiros contactos do satélite com a Terra são esperados em abril.
Já o Prometheus-1, da Universidade do Minho, o segundo nanossatélite a ser construído por uma instituição universitária portuguesa, depois do ISTSat-1, pelo Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa, foi concebido como uma "ferramenta de ensino" para alunos de engenharia aeroespacial, eletrotécnica ou de telecomunicações, que poderão "fazer atividades de comando e controlo" ou "trabalhar com réplicas".
Com cinco centímetros de lado e 250 gramas de peso, o minúsculo satélite, que se assemelha no tamanho a um cubo mágico, vai ficar posicionado a cerca de 500 quilómetros de altitude da Terra.
Equipado com uma câmara similar à de um telemóvel, este é um trabalho que conta com a colaboração dos alunos do curso de Engenharia Aeroespacial e está integrado num consórcio com a Universidade Carnegie Mellon, dos Estados Unidos da América, que produziu a plataforma inicial, e o Instituto Superior Técnico que disponibilizou informação sobre o ISTsat-1, lançado em julho de 2024.
Assim como o titã grego que roubou o fogo aos deuses, e dá nome a esta máquina, este satélite pretende trazer o espaço para dentro da sala de aula em prol do conhecimento.
A TSF conversou com o professor responsável pelo projeto, Alexandre Ferreira da Silva, do Departamento de Eletrónica Industrial da Escola de Engenharia da Universidade do Minho, que explica que será possível dar início ao “ensino de processos de operação do satélite”. Em terra, irão receber dados relativos à saúde do equipamento, tais como “estado das baterias, aceleração e temperatura”, que vão permitir acompanhar a evolução em órbita do equipamento.
O Prometheus-1 será utilizado como caso de estudo em diferentes contextos, ou seja, não apenas com os estudantes de Engenharia Aeroespacial, mas também em Engenharia Eletrónica, Industrial e Computadores e no curso de Telecomunicações.
Pedro Nuno Andrade, aluno de mestrado do curso de Engenharia Aeroespacial, acompanhou de perto o desenvolvimento técnico e de certificação do Prometheus-1.
A primeira missão em que esteve envolvido esteve relacionada com a substituição de alguns componentes que se encontravam obsoletos e arranjar soluções viáveis ao nível da eletrónica. Além da parte técnica, os alunos foram chamados a participar nas questões burocráticas de certificação do satélite. Momentos que descreve como “marcantes” e que contribuíram para alimentar a paixão pelo espaço. O futuro, acredita, poderá passar pelo desenvolvimento de satélites.
O Prometheus-1 é um projeto que teve início há mais de três anos com 100 mil euros de financiamento pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Questionado sobre os riscos desta viagem, Alexandre Ferreira da Silva diz ter dúvidas apenas quanto ao momento de libertação para órbita.
“Não sabemos em que condições chegou”, refere. A equipa que estará em terra a monitorizar o satélite terá de conseguir encontrar este 'PocketQube' e estabelecer ligação com o mesmo. Estas são as novas fases de aprendizagem, logo com maior risco associado.
A estimativa é que permaneça em órbita perto de sete anos, dos quais apenas dois serão funcionais. Esta quarta-feira, será assinado um protocolo com a Força Aérea Portuguesa. Um projeto “piloto” que utilizará o Prometheus-1 como caso de estudo para rastreios.
A médio prazo, a UMinho não descarta a possibilidade de produzir um novo satélite, mas desta vez terá como base trabalhos de alunos.
A licença para lançamento, comando e controlo do Prometheus-1 foi apenas a terceira do género atribuída pela ANACOM, após os recentes satélites MH-1 (Aeros) e ISTSat-1.
Notícia atualizada às 13h13

