Fenómenos meteorológicos extremos nas universidades: "Não podemos estar dependentes dos acontecimentos mediáticos"
À TSF, o diretor do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto afirma que o importante é discutir "o aquecimento global que é o que está na base eventualmente de todo este problema"
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Os fenómenos meteorológicos extremos são cada vez mais comuns e mediáticos. O mais recente que fez manchete em todo o mundo foi a chuva forte que provocou inundações em Valência. Contudo, o que aconteceu em Espanha ou nos Estados Unidos da América nas últimas semanas não altera a forma como as universidades estudam o clima e o ambiente.
"Não podemos estar dependentes, digamos, dos acontecimentos mediáticos que vão acontecer. E desde há muitos anos que nas universidades, pelo menos e não só, que nós discutimos o aquecimento global, que é o que nos preocupa, que é o que está na base eventualmente de todo este problema", explica à TSF Joaquim Esteves da Silva, diretor do Departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto.
Na Universidade do Porto, há cadeiras de licenciatura e mestrado que estudam as alterações climáticas. O tema não é novo: "Não há propriamente uma alteração dos currículos. O que nós estamos é a explicar aos estudantes, num contexto científico, como é que estas coisas acontecem e quais são as eventuais consequências deste aquecimento global."
As consequências estão há vista de todos, até porque os fenómenos se tornam mediáticos. No entanto, há regras a cumprir no estudo do problema.
"No clima, nós comparamos períodos de tempo relativamente longos. A Organização Mundial para a Meteorologia sugere um período de 30 anos. Nós não podemos reagir a um acontecimento pontual, como aconteceu agora em Valência", justifica o investigador.
Por isso mesmo, Joaquim Esteves da Silva não espera alterações à forma como os fenómenos já são abordados nas universidades: "Temos que ensinar e formar os estudantes que possam vir a ser bons consultores dos políticos, porque os políticos são gestores. Muitas vezes não têm conhecimentos. Eles têm que se basear na informação que lhes dão. [Esses consultores estão a fazer um bom trabalho?] Eu acho que, na Europa, sim, porque a Europa tem uma lei de clima no sentido de sermos neutros de carbono em 2045 ou 2050 e temos as reduções que estão previstas até 2030. Se isso acontecer, nós contribuímos. O problema é que a Terra não é só a Europa."
Esses contributos, segundo o investigador, já é possível prever alguns desses fenómenos e não compreende o que falhou em Valência.
"Por exemplo, os furacões nos Estados Unidos, no Golfo do México, eles sabem perfeitamente onde estão, avisam as pessoas. Ou seja, do ponto de vista da previsão, não percebo o que é que falhou no sul de Espanha, porque nós temos os meios todos. Nós, as entidades governamentais que têm os satélites e que estão a monitorizar minuto a minuto o que se passa num determinado local e quando aparece uma estrutura deste tipo, com nuvens, com uma densidade de água muito grande, detetam, observam e sabem o que é que vai acontecer", refere.
E, com cada vez mais fenómenos transmitidos em direto, há também mais alunos interessados no tema: "Os estudantes eventualmente estarão mais motivados porque ouvem falar principalmente nas notícias das alterações climáticas. Começa-se a tornar, digamos, quase uma conversa diária."
