Guterres apoia criação de regulador da IA à imagem da Agência de Energia Atómica

Guterres explica que as vantagens de uma agência como a AIEA são ter uma "base de conhecimento muito sólida" e, ao mesmo tempo, funções regulatórias
Tchandrou Nitanga/AFP (arquivo)
O líder da ONU sublinha que uma decisão deste tipo está nas mãos dos países que integram as Nações Unidas e que, em todo o caso, teriam de trabalhar neste processo com as empresas que estão a desenvolver a Inteligência Artificial (IA).
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O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, defendeu esta segunda-feira a criação de uma agência internacional para supervisionar o desenvolvimento IA.
Numa conferência de imprensa em Nova Iorque, onde apresentou uma proposta para regular a IA e travar a desinformação online, Guterres defendeu que a nova agência atue nos moldes da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) em relação ao ramo nuclear.
Esta possibilidade foi levantada recentemente por vários especialistas do setor, incluindo a empresa OpenAI - que desenvolveu o popular ChatGPT - e, segundo a imprensa britânica, está a ser promovida pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, que deseja que o órgão seja estabelecido em Londres.
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"Isso dependerá das iniciativas dos Estados-membros, mas eu seria a favor da ideia de que possamos ter uma agência de inteligência artificial, digamos inspirada no que é hoje a Agência Internacional de Energia Atómica", disse Guterres.
A AIEA, com sede em Viena, foi fundada em 1957 para promover e controlar a energia nuclear e faz parte da estrutura das Nações Unidas.
Guterres deixou claro que uma decisão desse tipo está nas mãos dos países que integram as Nações Unidas, mas declarou que a ONU gostaria de estar "no centro de todas as redes e movimentos" que se estabeleçam para administrar a IA.
Conforme explicou, a vantagem de uma organização como a AIEA é que ela tem uma "base de conhecimento muito sólida" e, ao mesmo tempo, tem certas funções regulatórias.
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"Acho que este modelo pode ser muito interessante", disse Guterres, que em todo o caso sublinhou a necessidade de se trabalhar neste processo com as empresas que estão a desenvolver a IA e que são as que têm os verdadeiros especialistas técnicos neste momento.
Ainda, o chefe das Nações Unidas informou que irá constituir nos próximos dias um grupo de assessores científicos para trabalhar nos próximos passos no domínio da IA, incluindo a preparação de uma cimeira que está a organizar para este ano no Reino Unido.
Mais tarde, após as reuniões anuais de setembro da Assembleia Geral das Nações Unidas, Guterres planeia criar um órgão consultivo para tudo o que estiver relacionado com a inteligência artificial.
O secretário-geral da ONU já propôs na semana passada um grande pacto global para gerir tecnologias digitais, incluindo o rápido avanço da IA.
"A nova tecnologia está a avançar a uma velocidade enorme, assim como as ameaças que a acompanham", lembrou esta segunda-feira Guterres, enfatizando que são os próprios criadores de inteligência artificial que estão a fazer soar os alarmes.
"Esses cientistas e especialistas pediram que o mundo atue, declarando que a IA é uma ameaça existencial para a humanidade equivalente ao risco de uma guerra nuclear", disse o ex-primeiro-ministro português.