Identificada região cerebral com potencial de alteração precoce na doença de Alzheimer
A descoberta da equipa de investigadores portugueses da Universidade de Coimbra, com doentes de Alzheimer em fase inicial, pode abrir caminho para melhorias no diagnóstico e em terapias.
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A equipa multidisciplinar de cientistas da Universidade de Coimbra (UC) e do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra centrou-se numa parte do cérebro, o cíngulo, que estudos post mortem já indicavam alterações com a doença de Alzheimer. Não se sabia, no entanto, se esta região do cérebro era afetada numa fase inicial da doença.
Segundo Miguel Castelo-Branco, da Faculdade de Medicina e um dos coordenadores do estudo, os investigadores descobriram um hotspot triplo nesta região que acumula amilóide, inflama e onde se verifica hiperatividade. "O que é muito curioso é que estas pessoas faziam uma tarefa cognitiva de memória em ressonância magnética, e vimos que, nestas fases muito precoces, esta área do cérebro que está a inflamar tem uma ativação excessiva que achamos que é uma ativação compensatória", explica o investigador.
Esta descoberta no cérebro humano foi demonstrada in vivo, envolvendo 40 pessoas. Destas, 20 tinham diagnóstico de Alzheimer em fase inicial, e as restantes pessoas eram saudáveis, com as mesmas características sociodemográficas. "Estamos a falar em pessoas em fases precoces que foram capazes de fazer estes três exames de imagens in vivo. É isso que torna o estudo tão diferente. Foi exigente do ponto de vista técnico, foi exigente para os participantes, e conseguimos documentar uma região crítica na doença de Alzheimer", acrescenta Miguel Castelo-Branco.
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O estudo envolveu também um conjunto de técnicas avançadas de imagem funcional e cerebral: o PET duplo (que mede, no mesmo doente, neuroinflamação e deposição de amilóide) e a ressonância magnética funcional para medir a atividade cerebral em tarefas de memória.
Para Miguel Castelo-Branco, o estudo, publicado na revista Communications Biology, pode abrir portas "para testar os efeitos de novos tratamentos" para a doença e ajudar a "consolidar o diagnóstico precoce". "O diagnóstico das demências não é trivial. Há vários subtipos de demências e, este tipo de ferramentas, baseada na imagem, também nos ajuda a fazer um melhor diagnóstico", conclui.
A investigação contou ainda com o envolvimento de Nádia Canário e Lília Jorge, primeiras autoras do estudo, e de Ricardo Martins, investigadores do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde da UC.