Pele cor de laranja e ossos "de aço"? Como será o Homem quando se mudar para Marte
Parece ficção científica, mas os cientistas acreditam que, no futuro, os seres humanos terão de viver noutros planetas. Mas quão diferentes serão estes humanos extraterrestres daquilo que somos hoje?
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Pode ser um asteroide, as alterações climáticas, ou até mesmo um vírus... Não sabemos qual será a causa, mas é quase certo que, um dia, deixaremos de viver na Terra. Não seremos os primeiros e, muito provavelmente, também não os últimos. Já aconteceu com outras espécies - sim, falamos dos fascinantes dinossauros, que, em tempos, foram os "reis" do planeta, e que, de um dia para o outro, desapareceram da sua face. A espécie humana não está imune a tal destino. Também para nós, no futuro, a Terra poderá deixar de ser um sítio onde conseguiremos viver.
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Tão real é esta possibilidade que há já cientistas que se dedicam a estudar as alternativas existentes, outros lugares no universo para onde o ser humano pode mudar-se, quando o nosso planeta deixar de ser opção. "Temos de pensar nessas possibilidades agora", defende Scott Solomon, professor de Evolução Biológica, e um dos nomes mais destacados, mundialmente, nesta área de investigação.
Solomon formou-se em Ecologia, Evolução e Comportamento, na Universidade do Texas em Austin. Já foi investigador em várias instituições de renome nos Estados Unidos da América, mas também na Universidade Estadual Paulista, no Brasil - motivo pelo qual fala fluentemente português. É autor da obra "Future Humans: Inside the Science of Our Continuing Evolution", lançada em 2017 e considerada um dos melhores livros do ano pela Associação Americana para o Avanço da Ciência.
Há anos que Scott Solomon se debruça sobre estes "humanos extraterrestres" do futuro e o modo como poderão viver. Os motivos que podem obrigar a uma mudança forçada de planeta são, confirma o investigador à TSF, mais do que muitos.
"Podem ser várias coisas... Pode ser um asteroide, como aconteceu há 65 milhões de anos, [o que terá causado] a extinção dos dinossauros - isso pode acontecer de novo, e, se acontecer, vai ser impossível continuar aqui na Terra", aponta, como exemplo. "Podem ser outras coisas também. O clima está mudando agora e não sabemos com certeza se o nosso planeta vai ser um lugar confortável para nós no futuro", alerta.
Próxima paragem: Marte
Poderemos, então, ser mesmo forçados a sair daqui. Mas, e se isso acontecer? Para onde vamos? Scott Solomon acredita que Marte pode ser a solução. Segundo o investigador, o planeta vermelho tem condições específicas que o tornam no melhor preparado para receber a espécie humana.
"Marte é o melhor que temos", afirma. "Está perto, é maior do que, por exemplo, a Lua, tem mais gravidade e tem água, que podemos usar para beber e para a agricultura (de que vamos necessitar para ter comida)", argumenta Solomon.
O cientista frisa, no entanto, que o ser humano como o conhecemos deixará de existir, quando se mudar para outro planeta.
"Não vamos ser a mesma espécie que somos agora", declara categoricamente, nesta entrevista à TSF.
Uma nova espécie humana
As mudanças começam logo com uma nova forma de vida, à qual teremos de nos adaptar.
"Podemos construir prédios [em que o ambiente interior é] como na International Space Station [Estação Espacial Internacional]. É possível viver assim, mas não é muito cómodo. A gente vai ter de mudar a nossa ideia do que necessitamos para viver", explica.
Mas mais do que transformações no estilo de vida, o ser humano terá mesmo de sofrer também alterações nas suas características biológicas. Falamos, por exemplo, da densidade dos nossos ossos, que terão de ser "mais resistentes" e "mais fortes" por causa da "falta de gravidade".
Mas até a nossa pele pode ter de mudar de cor. E desenganem-se os fãs de ficção científica: os extraterrestres (pelo menos, estes) não são verdes.
"A nossa pele vai, possivelmente, ter outras cores porque em Marte há muito mais radiação e isso vai ser um problema, com toda a certeza", adianta Scott Solomon.
"Pode acontecer uma mutação nos genes que pode mudar os pigmentos que temos na pele. Há espécies que têm outro tipo de pigmento. A cor das cenouras vem de um pigmento que se chama carotenoide, e esse pigmento ajuda a proteger contra a radiação", exemplifica o investigador, indicando que o mesmo está também presente em alguns animais.
"Então, é possível que vamos ter pele cor de laranja em Marte. Não verde!", brinca, entre risos.
Ainda não é tarde demais
Já temos, portanto, uma imagem de como serão estes "humanos marcianos". Mas quando irão eles aparecer? Quando se darão todas estas transformações?
"Eu acho que haverá pessoas a ir para Marte nas próximas décadas, mas para viver lá demorará mais", prevê o cientista, ressalvando que há já, neste momento, pessoas a pensar "nas tecnologias de que necessitamos para chegar e para viver lá".
Mas então e quanto àqueles que estão muito satisfeitos a morar aqui na Terra e que não querem, de todo, ter de procurar um T2 com varanda em Marte? Não há nada que possamos fazer para evitar esse cenário?
"Espero que tenhamos a possibilidade de fazer as duas coisas: de mudar o que estamos fazendo agora neste planeta, para evitar essa possibilidade de não podermos viver aqui; e também ir para outros planetas, para ter outro tipo de vida lá. Acho que as duas coisa são possíveis", responde.
Se queremos, portanto, ter, literalmente, o melhor de dois mundos, é agir agora na Terra, para evitar que os nossos comportamentos do presente nos obriguem a mudar de casa - para outro planeta! - num futuro mais próximo do que esperamos.