Professor descobriu que aluno usou ChatGPT num exame, mas diz que ferramenta não deve ser banida
Algumas universidades francesas e norte-americanas já proibiram a utilização do ChatGPT e de outros programas de inteligência artificial, de modo a evitar que os alunos recorram a essas ferramentas para cometer plágio em testes e trabalhos.
Corpo do artigo
Não existe, para já, qualquer bloqueio generalizado ao ChatGPT nas universidades portuguesas. No entanto, a ferramenta que utiliza inteligência artificial para criar textos a partir do zero já foi usada de forma fraudulenta no ensino superior em Portugal. O professor que detetou, em janeiro, a utilização desse instrumento num exame duvida que impedi-lo solucione o perigo de plágio, uma vez que "existem sempre maneiras de dar a volta aos bloqueios".
Um aluno do mestrado de Engenharia Biomédica e Biofísica da Faculdade de Ciências de Universidade de Lisboa recorreu ao Chat GPT para responder a uma questão de um exame da disciplina de "Dispositivos Médicos I". Os estudantes fizeram o teste nos computadores da universidade e podiam consultar a internet para compor a resposta, mas o facto de o texto estar "bem escrito demais e muito organizado" fez desconfiar o professor Hugo Alexandre Ferreira.
TSF\audio\2023\02\noticias\10\rui_carvalho_araujo_chatgpt
O investigador explica que a avaliação "tem um tempo finito", por isso é "muito raro encontrar o encadeamento das ideias muito bem estruturado, com um inglês perfeito". Apesar de a resposta não estar totalmente correta, o professor decidiu fazer o teste do algodão e colou no ChatGPT a pergunta que tinha feito no exame.
À TSF, Hugo Alexandre Ferreira conta que o que foi respondido pela ferramenta de inteligência artificial "foi muito próximo daquilo que estava escrito pelo aluno, incluindo o encadeamento de ideias".
O professor da Universidade de Lisboa confirmou depois "com um software para detetar texto proveniente do ChatGPT" que, de facto, o aluno recorreu a esse sistema para responder à pergunta do exame.
Hugo Alexandre Ferreira admite que ficou admirado com a descoberta desta fraude, porque o ChatGPT "é uma tecnologia que saiu muito recentemente". No entanto, o docente realça que não penalizou "demais" o aluno por ter tomado essa iniciativa. O estudante teve, ainda assim, de repetir o teste.
"Muita atenção, que estas coisas já apareceram aqui"
Depois desta tentativa de plágio, Hugo Alexandre Ferreira alertou os colegas professores e a própria Universidade de Lisboa. O caso é encarado pelo docente como "um sinal dos tempos" que obriga a refletir como se pode avaliar "de forma diferente".
Para o investigador, o bloqueio do Chat GPT por parte das universidades não resolve o perigo de fraude. A alternativa passa por "desenvolver uma solução mais inteligente", que detete de forma fácil o plágio e o recurso a inteligência artificial.
Quanto ao processo de avaliação dos alunos, Hugo Alexandre Ferreira sugere que os testes mais fidedignos possam agora ser as avaliações orais, já que dessa forma "dá para perceber se as pessoas percebem ou não os conceitos que é suposto dominarem".
O professor considera, ainda assim, que há um lado bom da tecnologia idealizada pela start-up californiana OpenAI, admitindo que usa o ChatGPT na sua própria investigação.
"Faço a minha pesquisa no motor de busca normal, como o google, e agora uso o ChatGPT para me fazer uma súmula e depois vou complementando", conta. O professor explica que, no final, vai à procura das fontes, já que o ChatGPT não adianta onde foi buscar a informação que fornece.
Com essa experiência adquirida, também os alunos de Hugo Alexandre Ferreira foram encorajados pelo professor a utilizar a ferramenta, que, segundo o docente, pode acelerar a investigação.
Em França e nos Estados Unidos da América, o ChatGPT já foi bloqueado em diversas universidades. A TSF tentou uma reação por parte do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas e do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, mas não obteve resposta.