"Queria ser professor de tudo." Cientista Nuno Maulide premiado pela Sociedade Americana de Química
O investigador, director do Instituto de Química Orgânica da Universidade de Viena, é o primeiro português a receber este prémio, mais um numa lista que conta já cerca de duas dezenas de distinções. A TSF falou com Nuno Maulide
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"Este prémio é especial ou é só mais um, tendo em conta que já tem tantos?" À pergunta da TSF, Nuno Maulide ri e reconhece que "é diferente". Explica o cientista que, por um lado, é preciso ter em conta o papel de liderança científica, assumido pelos Estados Unidos a seguir à Segunda Guerra Mundial: e, por outro, a algum "isolacionismo científico" de que foi testemunha, quando esteve na Universidade de Stanford, na Califórnia.
"Os americanos acham que eles é que são os melhores em tudo. Não há nenhuma área do saber em que seja sequer necessário olhar para o outro lado do Atlântico. Por isso, quando a associação deles, de química, escolhe uma pessoa que não está localizada nos EUA (...) , tem, de facto, um gostinho especial."
Conforme pode ler-se na página oficial, o prémio Arthur C. Cope Scholar Award "reconhece e incentiva a excelência na área da Química Orgânica". A longa lista de vencedores recua até 1986 e, em 2024, Nuno Maulide é o primeiro nome português.
Mas, afinal, o que é a "química orgânica"? É o ramo da química que estuda o carbono, uma substância que "suporta a vida" e existe em praticamente tudo. "Nós somos feitos de compostos de carbono; tudo aquilo que comemos contém muitos compostos de carbono; os medicamentos que tomamos, as roupas que usamos, as cadeiras em que estamos sentados, o gel e o shampoo com que tomamos banho... não preciso de dizer com o que é que são feitos, não é?"
Nuno Maulide nasceu em Portugal. Formou-se no Instituto Superior Técnico, estudou depois na Bélgica, em França e nos Estados Unidos. É atualmente diretor do Instituto de Química Orgânica da Universidade de Viena, na Áustria, e um dos mais premiados cientistas portugueses da atualidade. É professor, a única coisa que sempre quis ser na vida.
"Quando era muito pequeno, queria ser professor de tudo: de inglês, de português, de matemática, de ginástica, de piano (...) quando estava a fazer o doutoramento, queria ser professor na universidade (...) e só por causa da necessidade de, para ser professor universitário, ter um curriculum de investigação forte, é que percebi que era importante ser um investigador de qualidade."
E foi assim que surgiu aquilo que Nuno Maulide assume como uma "missão de vida": "Explicar coisas complicadas de forma simples."
E antes que o verão acabe, o cientista deixa uma sugestão que pode ser considerada fora do vulgar. E que tal um fio de azeite naquele gelado que mais gosta? "Disseram-me o gelado fica mais saboroso. E eu, como cientista que sou, fiz a experiência. E devo dizer que se confirma!"