Vida fora da Terra? Novas evidências detetadas em exoplaneta: resultados "interessantes", mas cientistas pedem "cautela"
Em declarações à TSF, o astrónomo Miguel Gonçalves refere que são precisas "mais observações com outro tipo de instrumentos e uma melhor análise dos resultados". Os próprios investigadores "não dão asas à especulação"
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Os cientistas encontraram novas evidências de que poderá haver vida fora do nosso sistema solar. A descoberta foi feita no exoplaneta K2-18b, localizado a 124 anos-luz da Terra. A partir de observações feitas pelo telescópio espacial James Webb, foram detetados sinais de moléculas que, na Terra, são produzidas apenas por organismos simples. Apesar de muito cautelosos, os investigadores falam num “ponto de viragem”, uma ideia também sublinhada na TSF pelo astrónomo Miguel Gonçalves.
"É bastante interessante, mas saltar para afirmar que é uma prova inequívoca de deteção de vida fora do sistema solar é um passo muito mais gigante. Precisamos de muito mais observação feita com outro tipo de instrumentos, uma melhor análise dos resultados, mas é isso que os cientistas escrevem também neste próprio artigo. Eles não dão asas à especulação, mas dizem que é um resultado interessante e eu concordo", explica à TSF Miguel Gonçalves.
Os resultados deste estudo foram publicados no "The Astrophysical Journal Letters". "Esta é a evidência mais forte até o momento de uma atividade biológica além do sistema solar", disse o professor Nikku Madhusudhan, astrofísico da Universidade de Cambridge e principal autor da investigação. "Estamos muito cautelosos", adianta, acrescentando: "O que estamos a encontrar neste momento são indícios de uma possível atividade biológica fora do sistema solar. Penso que este é o mais próximo que chegámos de ver uma caraterística que podemos atribuir à vida."
Foram detetados sinais de dois compostos químicos na atmosfera do planeta K2-18b, considerados há muito tempo como "bioassinaturas", ou seja, indicadores de vida. Na Terra, as substâncias químicas dimetilsulfeto (DMS) e dissulfeto de dimetila são produzidas unicamente por seres vivos, principalmente por algas marinhas microscópicas. À TSF, Miguel Gonçalves descreve estas moléculas: "Têm na sua constituição química carbono, hidrogénio e enxofre e, portanto, tudo átomos que também fazem parte da vida".
"Na Terra, de facto, são organismos muito simples, como, por exemplo, o plâncton nos oceanos e há umas bactérias que sintetizam estas moléculas, mas é preciso que se diga que há outras linhas de investigação que dizem que, em situações ambientais, em situações químicas muito mais específicas, é possível termos também a síntese deste tipo de moléculas por vias não apenas biológicas, ou seja, em que não é preciso vida", sublinha.
Com mais de oito vezes a massa da Terra e 2,5 vezes maior, o K2-18b é um exoplaneta raro que orbita a sua estrela numa zona habitável, o que significa que não é nem demasiado quente, nem demasiado frio para ter água líquida, considerada o ingrediente mais importante para a vida.
Em 2023, o telescópio Webb detetou metano e dióxido de carbono na atmosfera do K2-18b, a primeira vez que estas moléculas à base de carbono foram detetadas num exoplaneta em zona habitável.