Cientistas estão mais perto de imitar a energia das estrelas

Um laboratório em Oxford conseguiu gerar uma reação nuclear que durou cinco segundos e gerou 59 megajoules de energia.

Os cientistas estão mais perto de conseguir imitar a energia das estrelas e aplicá-la à produção na Terra. Os investigadores do laboratório Joint European Torus (JET), o maior reator de fusão do mundo, situado perto de Oxford, no Reino Unido, conseguiram em dezembro gerar 59 megajoules de energia numa explosão que durou cinco segundos, um recorde, segundo a Autoridade Britânica de Energia Atómica (UKAEA).

O episódio é encarado pelos especialistas como um grande passo na energia de fusão nuclear e na direção de uma produção industrial vista como limpa e barata. Bruno Gonçalves, diretor do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear (IPFN), avança na TSF com uma explicação do que foi conseguido em terras britânicas.

"O que ocorre é a fusão de núcleos leves e, no nosso caso, ao replicarmos na Terra, tentamos de fundir núcleos de isótopos do hidrogénio, ou seja, o chamado hidrogénio pesado, o deutério e trítio", uma reação que permite "libertar uma quantidade significativa de energia". Mas há que cumprir condições específicas e, uma delas, é a de "atingir temperaturas elevadas para que os núcleos vençam a força de repulsão".

"Têm tendência a repelir-se, nós precisamos temperaturas elevadas para obrigá-los a fundir-se. Nesse processo liberta-se energia e o grande objetivo é aproveitar essa energia para a produção de energia elétrica", descreve na TSF.

Esta evolução vai permitir "produzir energia de forma sustentada", mas é também importante para prepara a operação de futuros dispositivos de fusão nuclear. Entre estes está o ITER,o Reator Termonuclear Experimental Internacional, por esta altura a ser construído no sul de França, e que envolve "a União Europeia, a Federação Russa, os Estados Unidos, a China, o Japão, a Coreia do Sul e a Índia, todos a contribuir para tornar a fusão nuclear numa realidade".

Uma produção alternativa

E que realidade é essa? "A acontecer, e a produzir energia elétrica tal como nós desejamos, será uma energia limpa, que produz poucos resíduos radioativos."

Por exemplo, para se obterem os 59 megajoules de energia libertados no JET, foram utilizados "miligramas de combustível para produzir tanta energia como a queima de um kg de gás natural ou de um kg de carvão".

Assim, este processo apresenta-se, explica Bruno Gonçalves, como uma "alternativa desejável" que pode ajudar a resolver parte do problema em torno das alterações climáticas: "Por um lado, porque não produz CO₂ (dióxido de carbono) e, por outro, porque a concretizar-se, tem capacidade de providenciar a chamada eletricidade de base."

Cinco segundos primeiro, cinco horas depois

Esta produção de eletricidade foi também uma das valências assinaladas pelo diretor de operações do JET, Joe Milnes, em conferência de imprensa depois da operação.

"É a energia necessária para cobrir as necessidades, durante cinco segundos, de 35 mil residências", explicou. Já a UKAEA assinalou os resultados como "a demonstração mais clara, em escala mundial, do potencial da fusão para fornecer energia sustentável".

O processo de fusão nuclear permite produzir, para as mesmas quantidades, quatro milhões de vezes mais energia do que o carvão, o petróleo, ou o gás. Os cinco segundos de reação conseguidos pelo JET ainda não permitem classificar o processo como viável, mas Tonny Donne, do consórcio EUROfusion, citado pela AFP, garante que no futuro, com projetos mais potentes - como o ITER - vai ser possível estender as reações até "cinco minutos e depois cinco horas".

Bruno Gonçalves concorda com a ideia. Colocar o ITER a funcionar é "o passo seguinte" para passar do conceito à realidade de uma "central elétrica de fusão nuclear. O objetivo é claro: "A produção de energia elétrica com base em fusão nuclear na segunda metade desde século."

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