Mobilidade sustentável: reduzir carros nas cidades é "politicamente difícil"

Filipe Moura, professor associado do IST, garante que as medidas para uma redução dos carros "não são muito caras ao nível do investimento".

Considerando que "não se pode olhar para o investimento" previsto no Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) de forma isolada, Filipe Moura, professor associado do Instituto Superior Técnico (IST) e responsável do Centro de Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade, lembra que devem ser tidas em conta "todas as verbas que contribuem para a transição climática, em linha do que é o roteiro para a neutralidade carbónica", dando como exemplo a aposta do PNI 2030 (Programa Nacional de Investimentos) na ferrovia.

Na análise global que faz ao caminho para a neutralidade carbónica no capítulo da mobilidade, o especialista reconhece que o país "tem investido do lado da oferta", mas aponta a necessidade de "dar mais atenção à procura", através de medidas que levem as pessoas a procurar deslocar-se de forma mais sustentável.

Ser mais racional na utilização do espaço urbano, em particular pelo automóvel, devia ser o objetivo, mas Filipe Moura identifica "uma enorme resistência" na redução do número de carros nas cidades. "Politicamente é difícil", garante o investigador. "E essas medidas não são muito caras. São caras eventualmente politicamente, mas não são muito caras ao nível do investimento", explica.

A gestão do estacionamento e das entradas nas cidades, através da criação de "alternativas nos chamados parques dissuasores e, penalizando a utilização dos automóveis quando eles estão dentro das cidades parados" são medidas que Filipe Moura considera essenciais, a que se juntam "faixas bus dedicadas, garantir a fluidez do tráfego quando existe transporte público coletivo e maior frequência do metro".

Para o responsável do Centro de Investigação e Inovação em Engenharia Civil para a Sustentabilidade do IST não basta planear, é preciso agir, intervindo nos preços, mas também nos percursos.

"O ser barato em si mesmo, não resolve só. É preciso aquilo que nós definimos como um serviço em que não é difícil para uma pessoa apanhar um conjunto de meios de transporte", descreve, salientando que "tornar isto, como dizem os ingleses, seamless - sem fricções, sem perturbações - é o grande objetivo que vai atrair as pessoas ou pelo menos dissuadi-las de pensar no carro como meio de transporte preferencial".

E, se nos centros urbanos, a aposta deve ser em completar as redes, nas zonas mais rurais, as soluções passam pela mobilidade elétrica e pelo chamado transporte a pedido.

A fatia de leão dos investimentos nos transportes é dedicada à mobilidade urbana e à ferrovia. Uma aposta a que Filipe Moura dá nota positiva.

"Estamos no sentido certo, sim. Se chega, não sei... Não consigo dizer e acho que ninguém consegue dizer se, sim, já chega", afirma o docente, rematando: "Acho que é muito difícil dizer isso..."

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