As marcas da segregação racial no sul do Estados Unidos ainda estão bem vivas nos mais velhos. Na semana em que Hillary Clinton e Bernie Sanders tentam convencer os eleitores afro-americanos, decisivos nas primárias democratas na Carolina do Sul.
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Donella Wilson nasceu em 1909 numa plantação em Fort Motte, a sul de Colúmbia, no mesmo sítio onde os bisavós tinham trabalhado como escravos.
Aprendeu a ler em casa, com a avó, a ler a bíblia e catálogos de lojas. Não havia uma escola em Fort Motte... Só entrou na escola mais tarde, já em Colúmbia, e ainda com turmas segregadas.
Foi professora primária durante quase 40 anos, e ativista dos direitos da comunidade afro-americana.
Já tem pouca memória desses tempos, está frágil, sentada em casa numa cadeira de baloiço, e tenta recordar a infância: "Foi muito bom, tanto quanto era possível para nós, negros. Tínhamos a escola separada, o recreio separado, ou horas diferentes para brincar no mesmo recreio"
Pergunto-lhe se alguma vez lhe passou pela cabeça ter um presidente negro?: "Não! Os brancos mandavam em tudo no meu tempo. Quer dizer, não mandavam, mas estavam encarregues de tudo".
E, claro, ficou feliz com a eleição de Obama em 2008: "Sim!!! Sempre que ele foi a eleições votei nele, como o nosso primeiro presidente negro! Fiquei muito feliz e com medo... de que o matassem por ser o primeiro presidente negro dos Estados Unidos".
Com 106 anos, Donella Wilson é a eleitora mais velha na Carolina do Sul. Não perde uma eleição, nacional, estadual ou local, desde 1948, foi nesse ano que a deixaram votar pela primeira vez tinha 39 anos. Harry Truman, democrata, venceu nesse ano.
Amanhã, hão de levá-la à mesa de voto, fica perto de casa, menos de um quarteirão. O voto está decidido há muito: "Sim, acredito que a Hillary vai ser uma bela presidente, porque acredito que a maioria dos brancos estará com ela, e tenho a certeza de que os negros também".
Donella Wilson nasceu na Carolina do Sul em 1909. 106 anos depois ainda só consegue conceber o mundo a preto e branco.
A TSF acompanha o ano presidencial nos Estados Unidos no âmbito de uma parceria com a Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento (FLAD).