Matt Anthony, democrata, músico de rua e membro de um dos grupos progressistas criados por Bernie Sanders, dá a receita para unir o Partido Democrata. Convenção começa hoje, em Filadélfia.
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A Convenção Nacional do Partido Democrata norte-americano arranca esta segunda-feira, mas, durante o fim de semana, já houve algumas reuniões, no centro da cidade, em jeito de pontapé de saída para o encontro que, durante quatro dias, promete fazer correr muita tinta.
Marcada pelo apoio oficial de Bernie Sanders a Hillary Clinton, pelas duras críticas de Donald Trump à ex-secretária de Estado da administração de Barack Obama, e, desde este domingo, pelo anúncio da presidente do partido, Debbie Wasserman Schultz, de que irá deixar o cargo após a convenção - na sequencia da revelação, por parte do site do grupo wikileaks, de perto de 20 mil mensagens de correio eletrónico, nas quais vários membros do partido discutiam estratégias para derrotar Bernie Sanders, e a favor da antiga primeira-dama -, a Convenção é acompanhada de perto por muitos jornalistas e analistas, mas, sobretudo, por milhões e milhões de eleitores.
No primeiro dia, a atual primeira-dama, Michelle Obama, e o senador do Vermont, Bernie Sanders, são os grandes focos de atração no Wells Fargo Center, em Filadélfia, mas, muito do que se joga durante estes quatro dias será também influenciado pelo que que se vai passar fora do pavilhão, com muitos dos apoiantes de Bernie Sanders ainda relutantes em depositar confiança na candidatura de Hillary Clinton.
Ainda assim, e mesmo confrontado com as dúvidas, há quem já esteja conformado com uma realidade: uma abstenção poderá sempre significar mais um empurrão para a candidatura de Donald Trump.
Um dos exemplos é o de Matt Anthony, apoiante do Partido Democrata, músico de rua - e nos vários bares da cidade - e membro de um dos grupos progressistas criados por Bernie Sanders, que, depois de ver o senador do Vermont declarar apoio, de forma oficial, à antiga secretária de Estado, não hesitou.
"Se rejeitarmos o sistema, vamos ter o maior dos males. É preciso ir às urnas e votar. É preciso que as pessoas apareçam e votem Hillary Clinton, mesmo que não gostem dela ou de quem está por detrás dela, porque é apoiada pelos grandes negócios e por Wall Street. Mas é o menor de dois males", afirma Matt Anthony, em plena Arch Street.
Ainda munido de um crachá de apoio à candidatura derrotada nas primárias, por estes dias, Matt Anthony é apenas um entre muitos democratas afetos a Sanders que continuam a lutar contra a vitória do magnata do imobiliário.
"Tem de ser Hillary Clinton, a alternativa é uma monarquia e recuar centenas de anos com Donald Trump. E, nós não precisamos dele na Casa Branca, tal como não precisamos de um Supremo Tribunal sob controlo dos republicanos ou que os republicanos continuem a controlar o Senado. Por isso, as pessoas têm mesmo de votar Hillary Clinton", insiste o homem que percorre as ruas da cidade - onde foi assinada a Constituição norte-americana - a tocar canções de Bob Dylan para seduzir eleitores e para deixar alertas sobre os perigos da alienação.
Protestos durante Convenção podem pressionar democratas
Ainda antes do arranque oficial da Convenção Nacional do Partido Democrata, as movimentações já indicavam que haveria protestos no decorrer dos trabalhos, em Filadélfia, e para Matt Anthony, os protestos, se pacíficos, podem até ser benéficos para o partido. Basta que cheguem ao interior do Wells Fargo Center.
"Há aqui pessoas das mais diversas origens: pessoas que estão com as empresas amigas do ambiente, gente que está contra a exploração petrolífera nos oceanos, pessoas que querem discutir as alterações climáticas, e eu penso que a esperança das pessoas que aqui estão é de que haja muita atenção por parte dos media".
No entender do apoiante de Bernie Sanders, um protesto bem organizado e pacífico pode ser o clique para levar a alterações no caminho seguido pela candidatura de Hillary Clinton: "Para que pelo menos ouçam e pensem: 'Há aqui um número significativo de eleitores de que precisamos na eleição final. Ou Trump irá vencer'".
A TSF acompanha as eleições nos Estados Unidos com o apoio da Fundação Luso Americana para o Desenvolvimento.