JD Vance sente-se "insultado" e garante que Cisjordânia não vai ser anexada por Israel
O Knesset aprovou na quarta-feira, numa leitura preliminar, um projeto de lei para anexação do território da Cisjordânia ocupado por Israel. O vice-presidente fala, por isso, numa "manobra política muito estúpida"
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O vice-presidente norte-americano considerou esta quinta-feira insultuosa uma votação no parlamento israelita (Knesset) sobre a Cisjordânia e reiterou a posição dos Estados Unidos de que o território palestiniano não será anexado por Israel.
"A política da administração Trump é que a Cisjordânia não vai ser anexada por Israel. Essa vai continuar a ser a nossa política", afirmou JD Vance na pista do aeroporto de Telavive, no final de uma visita de dois dias a Israel.
O Knesset aprovou na quarta-feira, numa leitura preliminar, um projeto de lei para anexação do território da Cisjordânia ocupado por Israel, proposto por um partido com apenas um deputado.
A aprovação, por 25 votos a favor contra 24, é apenas o primeiro passo de um processo que terá ainda de passar por mais três votações na assembleia de 120 deputados.
"Se foi uma manobra política, foi uma manobra política muito estúpida e pessoalmente sinto-me insultado", comentou Vance em declarações aos jornalistas, citado pelas agências espanhola EFE, norte-americana The Associated Press (AP) e France-Presse (AFP).
Vance, que aterrou na terça-feira em Israel para supervisionar o plano de cessar-fogo em Gaza, em vigor desde 10 de outubro, não escondeu a irritação com os deputados israelitas.
"Se querem fazer votos simbólicos, podem fazê-lo, mas nós definitivamente não estamos felizes com isso", afirmou.
Durante a visita, Vance anunciou a abertura de um centro de coordenação militar e civil no sul de Israel para a estabilização e a reconstrução de Gaza.
O centro junta cerca de 200 militares norte-americanos, militares israelitas e delegações de outros países, segundo a AP.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, disse na quarta-feira à noite, antes de partir para Israel, que planeia visitar o centro.
Rubio anunciou também que tenciona nomear um funcionário para trabalhar em conjunto com o principal comandante militar dos Estados Unidos no Médio Oriente, o vice-almirante Brad Cooper.
Os Estados Unidos estão à procura de apoio de outros aliados, especialmente das nações árabes do Golfo, para criar uma força de estabilização internacional a ser destacada para Gaza e para treinar uma força palestiniana.
"Gostaríamos de ver forças policiais palestinianas em Gaza que não sejam do Hamas e que façam um bom trabalho, mas estas ainda têm de ser treinadas e equipadas", afirmou o chefe da diplomacia norte-americana.
Rubio também criticou os esforços de políticos da extrema-direita no parlamento israelita sobre a Cisjordânia.
A votação do parlamento foi saudada pelos dois partidos de extrema-direita que integram a coligação liderada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Apenas um deputado do Likud, o partido de Netanyahu, votou favoravelmente e, com a oposição do primeiro-ministro, parece improvável que o projeto seja aprovado nas várias votações necessárias para se tornar lei.
A votação preliminar simbólica a favor da anexação da Cisjordânia foi vista como uma tentativa de envergonhar Netanyahu enquanto Vance estava no país, segundo a AP.
A Palestina não possui continuidade territorial e, enquanto na Faixa de Gaza governava o braço político do Hamas, na Cisjordânia permanece a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), liderada por Mahmoud Abbas.
Desde o segundo Acordo de Oslo, de 1995, Israel possui o controlo militar e civil da denominada Área C da Cisjordânia, que equivale a 60% do território.
A ANP tem o controlo total da Área A e o controlo civil da Área B, onde reparte com Israel o controlo de segurança.
Além disso, existem centenas de postos de controlo militares israelitas em toda a Cisjordânia.
Também vigora um sistema de licenças que não permite a livre circulação dos palestinianos entre cidades e proíbe a muitos a entrada em Jerusalém.
Cisjordânia foi o nome dado pela Jordânia à margem ocidental do rio Jordão, quando anexou aquela parte do território palestiniano entre 1950 e 1967, ano em que foi ocupada por Israel.
Israel chama-lhe Judeia e Samaria.